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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Quase Morte?

A noite! porque deve ser tão longa? (Há um segundo você estava aqui...)

Minha cabeça dói...

O apartamento em desordem, o furacão da minha fúria passou por ele, fotos sobre a cama, roupas sobre a mesa, livros espalhados nos quatro cantos, o sofá massa disforme em frente à TV ligada. Notícias do Oriente Médio, Américas utópicas, Áfricas famintas, Ovnis no Pacífico, ondas gigantes na Sumatra e em minh’alma...

Estas roupas estão fora de moda... Estes livros não têm mais sentido... Sou eu que não faço sentido... Estendido neste chão, olhando o teto infinito e este ventilador que cresce e se aproxima... Como em turbilhão trás lembranças de alguém que devo ter sido.

A fumaça se torna bruma no apartamento pequeno, cinzeiros espalhados, quantas pontas de cigarros... Um maço meio amassado adverte: fumar faz... faz minha noite passar, talvez menos vagarosa.

Cansado, olhos pesados, inchados; lembro que bebi demais, mesmo assim não durmo. Os soníferos não fazem mais efeito, mas mesmo assim engoli alguns.

A máquina de escrever continua com a mesma folha em branco há dias, meu editor já cobrou todos os prazos e está para desistir de mim. O ventilador de teto barulhento ri-se e diz que já abdiquei de mim mesmo.

Uma réstia de luz surge na janela, meus olhos fecham, meu corpo não responde ao apelo de minha bexiga, abandono-me a sensação parestésica de meus membros...

...

Nossa! Parece que passou um caminhão por cima de mim... meu corpo todo dói. Sinto uma sensação pegajosa em toda a superfície de minha pele, suor? Minhas roupas estão molhadas, meus cabelos grudados na face, os olhos teimam em não abrir, meus membros ainda estão anestesiados, ouço meu coração dentro dos ouvidos, bate devagar como se quisesse parar.

Há mais alguém no apartamento, mas tenho certeza de que tranquei as portas, será que ela voltou? Desta vez a briga tinha sido para valer, eu como sempre tinha “pisado na bola”. Por que era mestre em fazer isso? Meus sentimentos estavam confusos há muito, eu buscava aventuras para meus romances, e ela sofria com isso. Eu sabia que ela me amava, e eu também a amava, mas... Bom talvez isso não importe agora.

Os sons se multiplicaram e parece que estou no meio de uma multidão. Os olhos não abrem, mas sou capaz de sentir reflexos acima de mim que correm como se eu estivesse em um túnel.

...

'Túnel de luz', retratado neste quadro de Hieronymus Bosch (séc. 15)

Esta é a sensação mais estranha que tive em toda minha vida, estou assustado! Vejo meu corpo sobre um leito de hospital, muitas máquinas à volta. Há um tubo em minha boca e muitos fios espalhados pelo meu tórax que se dirigem a um monitor cardíaco?

O que houve? Estou olhando tudo do teto desta sala, sinto-me leve e flutuo como uma pena no ar. Vários profissionais se revezam, observando os aparelhos conversam entre si, mas não consigo entender o que dizem. Uma luz muito forte surge e nada mais é visível, é um grande espaço branco...

Perséfone Hades

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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Dançarina

Depois de caminhar pelo túnel escuro por muito tempo, apenas visualizando uma luz ao fundo, minha visão clareou-se abruptamente.

Eu estava no salão de recepção, mesas baixas ao redor vinham até os limites da porta de entrada, desta podia-se ver o piso da parte central com um mosaico muito antigo, que mostrava a figura do deus vivo, cobrindo o chão; colunas ricamente pintadas em cores vivas ilustrando os feitos de Faraó assomavam até a cúpula branca, tão alta que diríamos viver ali gigantes. Ao fundo a escada de três degraus largos levava a um patamar onde havia uma mesa baixa com uma cadeira larga, de pedra azul trabalhada, com almofadas para o Supremo Senhor, e nas laterais do patamar, cadeiras em pedra branca, também trabalhadas, mais baixas, onde os convidados especiais do nosso Senhor Supremo, o Faraó, se sentavam.

O salão já estava cheio de convidados, os embaixadores de vários dos países associados e amigos do império.

Pela porta aberta entrou o meu grupo de sete mulheres, com vestimentas coloridas e transparentes; mãos e pés com as unhas pintadas; jóias no pescoço, orelhas, punhos, tornozelos e cintura; cabelos negros em corte reto pelos ombros desnudos; faces pintadas ao estilo da época. Instrumentos tocavam e nós dançávamos. Era uma sensação deliciosa a leveza dos gestos, o ritmo da música e os olhares postos sobre nós.

Quando enfim, rodopiamos e acabamos ao chão em gesto de dádiva para o nosso Faraó, minhas faces afoguearam-se ao perceber seus olhos sobre mim. Retiramo-nos de forma respeitosa e arrisquei olhá-lo, ficando lisonjeada de ver que seus olhos perseguiam minha saída.

Nós a sacerdotisas da beleza e da arte morávamos no Templo, que ficava em um anexo do palácio do imperador. Eu tinha chegado aos 13 anos, para ser iniciada nas artes da música e dança. Agora, aos 16, já instruída nos mistérios do Templo e treinada nas artes, fazia minha primeira apresentação pública e estava ansiosa para ver se haveria aprovação.

As festividades duraram três dias. No terceiro dia nós voltamos com a dança do fogo. Os olhos de nosso Faraó e Senhor Supremo brilhavam de pura satisfação, ao final da apresentação este nos sorriu com aprovação e fez um gesto de agradecimento direto a mim, de tal forma que corei e abaixei os olhos em respeito, mas sentindo-me radiante por dentro.

Nossa mãe, a Sacerdotisa Instrutora, ficou entusiasmada e chamou-me dizendo que deveria fazer-me mais bonita naquela noite, pois eu iria dançar particularmente para o Faraó.

A ansiedade foi aumentando, pois já tinha ouvido das sacerdotisas mais velhas, que nestes casos, as moças muita vezes iam fazer parte da Casa Imperial, como preferidas do Senhor Supremo e não voltam para o Templo.

Tudo aconteceu muito rápido. As irmãs juntaram-se a minha volta nos preparativos parecendo pássaros felizes na primavera, falando todas ao mesmo tempo e esvoaçando para lá e para cá. Banho de imersão; massagem com óleos perfumados; pinturas no rosto muito bem feitas; cuidados com as mãos, pés e cabelos. Roupas e jóias escolhidas a dedo pela Sacerdotisa Instrutora e muitas recomendações e orientações de última hora.

Formou-se um grupo de sacerdotisas mais velhas que me acompanharam em duas fileiras de cada lado até a porta da ante-sala dos aposentos imperiais. A música se iniciou, a porta foi aberta e entrei apenas eu em rodopios graciosos.

A sala era menor do que o salão de recepções, mas não era menos rica em detalhes. As colunas também pintadas em cores se sobressaiam do mosaico do chão. À frente numa cadeira de madeira avermelhada ricamente esculpida estava o nosso Faraó, em vestes brancas, sob seus pés um tapete de peles de animal imenso e uma mesa baixa também em madeira trabalhada onde se viam travessas da mais fina cerâmica com castanhas e frutas e uma ânfora de vinho acompanhada de duas taças.

O Senhor Supremo, nosso Faraó, olhava com atenção cada gesto de minha apresentação, seus olhos brilhavam com interesse. Um sorriso muito branco estampado no rosto mostrava seu júbilo. Eu me sentia quente, sorria em retribuição e dançava como ainda não o tinha feito em minha curta vida.

A música parou e estendi-me aos pés do meu Faraó no último acorde. A porta atrás de mim já estava fechada e os músicos retiraram-se sem que eu percebesse.

O Supremo então acenou para que eu me aproximasse, comecei a subir lenta e graciosamente os degraus largos que nos separavam. A vista escureceu.

...

Acordei na banheira de casa, relaxada e com esta vívida lembrança.

...

Perséfone Hades

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sábado, 5 de setembro de 2009

Ascendendo

De um tempo fora do tempo

vim em busca de conhecimento

De um espaço fora do espaço

vim em busca de sabedoria

No espaço-tempo encontrei a experiência

Perséfone Hades

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domingo, 30 de agosto de 2009

Caminho

fotografia: Caminhos
Alba Luna


Sol vermelho
entardece...
A estrada só
um caminheiro só.
Sombras do caminho
uma árvore
uma pedra
um cupinzeiro...

Entardece
sol vemelho
horizonte...
Ao oeste vou
no oeste findo
em buscas
respiro,
espírito infinito...

Perséfone Hades


sexta-feira, 24 de julho de 2009

29 anos sem Vinícius de Moraes

Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes, ou Vinicius de Moraes, 1913(Gávea-Rio de Janeiro) – 1980(Rio de Janeiro) foi um diplomata, jornalista, poeta e compositor brasileiro.

Teve como principais parceiros em composições Carlos Lyra, Tom Jobim Baden Powell e Toquinho.

Figura ímpar ficou conhecido como o Poetinha, por sua produção essencialmente lírica. Grande conquistador era freqüentador dos bares boêmios do Rio de Janeiro das décadas de 50, 60 e 70.

Cantou as belezas de sua terra, as mulheres como nenhum outro poeta o fez, as alegrias e dores de amores, sempre com conhecimento profundo dos sentimentos humanos.

Vinícius, onde estiver saiba que nós o amamos sempre e esperamos estar contigo aí onde estiveres para mais uma vez nos apaixonarmos a cada verso seu...

Poética


De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

Perséfone Hades com saudades!!!!!

sábado, 16 de maio de 2009

Reflexões - Sentimentos

 Michael-neumann

"Fiquei a meditar muito tempo na muralha. É em ti que a verdadeira muralha existe."(Cidadela - Saint-Exupéry)

Cada pedra desta muralha é colocada com muito cuidado durante toda a nossa vida, e nós as cultivamos como se não fossem ervas daninhas... E, por vezes, tornamos a muralha intransponível para nós mesmos...

muro1

São pedras carregadas de raiva, ódio, tristeza, mágoa, egoísmo, angústia, cólera, contrariedade, rejeição, remorso, irascibilidade, repulsa, medo, terror, vergonha, abatimento,  pouco-caso, ressentimento, menosprezo, aborrecimento, fúria, aversão, ira, acabrunhamento, melancolia, acanhamento, inveja, decepção, animosidade, antipatia, frustração, apreensão, asco,  cisma, contragosto, dor, irritação,   desapontamento, desassossego,  desencanto, horror, desgosto, desilusão, furor, implicância, melindre, insatisfação, nervosismo, insegurança, mortificação,  nojo, pavor, pieguice, sofrimento, tédio, temor.

Sempre me pergunto porque é tão difícil  limpar cuidadosamente cada uma destas pedras e transformá-las em amor, felicidade, esperança, amizade, estima, fraternidade, piedade, encanto, ternura, segurança, simpatia, entusiasmo, compaixão, harmonia, apreço, gratidão, amor-próprio, prazer, afeto, admiração; e quem sabe construir um belo templo interior.

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Que haja LUZ!!!

Perséfone Hades pulindo suas pedras...

 

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Reflexos da Vida na Morte

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O livro "Um Roqueiro no Além" lançado em 1992, ditado pelo espírito Zílio ao médium Nelson Moraes trás à reflexão o doloroso processo, no mundo espiritual, daqueles que foram usuários de drogas em vida.

O espírito Zílio narra suas experiências logo após a morte, enquanto ainda preso ao corpo físico em decomposição. O estado confuso de um indivíduo que não tem sequer idéia do que lhe acontece, tanto pela dificuldade de entendimento de que já morreu, como pelo mal que causou ao seu corpo físico e perispírito em vida.

No decorrer da história, o espírito Zílio nos dá dicas de quem possa ter sido em sua última encarnação, pois é muito conhecido no mundo espiritual, como o foi em vida... E sofre ao perceber que na posição que teve, contribuiu para que outros jovens enveredassem para o escuro caminho das drogas e do álcool, quando poderia ter sido uma Luz a iluminar as vidas já tão perturbadas.

É interessante acompanhar a ascenção destes espíritos ao ajudar outros que se encontram em pior situação. E relevante a observação das idas e vindas que todos nós fazemos para tornar nossas essências perfeitas e mais afeitas as energias divinas.

O nosso amigo Zílio trabalha com humildade e vontade para se tornar este ser melhor; e termina com uma poderação para se pensar:

"Nas ilusões da vida... Encontrei a morte!

Na realidade da morte... Descobri a vida!"

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Nelson Moraes nasceu em São Paulo, Capital, em 27 de Agosto de 1940, é escritor, médium, editor, radialista e terapeuta. Fundou o Centro Espírita Família Cristã em 1970 em São Paulo, é um estudioso e praticante do Espiritismo. Seus livros, inspirados pelos benfeitores que o assistem, oferecem reflexão sobre nossa natureza espiritual, buscando desenvolver as potencialidades e virtudes que levam ao caminho da evolução espiritual.
    

Perséfone Hades (Bia Unruh) cada vez mais interessada no profundo oceano que é a alma humana...

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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Reflexos dos Séculos Passados I

Neuschwanstein,_bruma,_castelos_medievais

A seguinte série de romances psicografados pela médium Yvonne de Amaral Pereira, foi escrita num período de aproximadamente quarenta anos, com intermitências devido às tarefas dos espíritos que ditaram estas obras.

Segundo explicações da médium as histórias foram escritas na seqüência contrária a dos acontecimentos, sendo o primeiro romance ditado parcialmente pelo espírito Roberto Canalejas na década de 1930 e só concluído quarenta anos depois com a revisão do espírito Charles que escreveu os outros dois romances. São histórias repletas de amores, ódios, traições, exemplos de honra, força, moral e fé.

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A primeira história “Nas Voragens do Pecado”, ditada em 1957-58, pelo espírito Charles é ambientado na França do século XVI durante o reinado de Carlos IX e da rainha Catarina de Médicis.

Neste são apresentados os personagens que vivem o drama do massacre de protestantes do dia de São Bartolomeu, na França. A família de La-Chapelle é massacrada pelo Capitão da Fé, Luis de Narbonne, filho bastardo do Rei Henrique II e, portanto desafeto da rainha Catarina de Médicis; saindo ilesa apenas Ruth-Carolina. Esta se associa a sua futura cunhada Otília de Louvigny em um pacto de vingança, que perdura pela obsessão, após sua morte.

Ruth-Carolina trama junto a Catarina de Médicis, a vingança contra Luis de Narbonne pela chacina da família e a rainha aproveita o seu ódio para perder aquele que considerava uma ameaça ao trono.

São tortuosos e sofridos os caminhos de Luis de Narbonne depois de concretizada a vingança por Ruth-Carolina e sua obsessora Otília de Louvigny; bem como o remorso e o ódio que corrói todos os envolvidos.

Ao final deste primeiro romance, os personagens, já no plano espiritual, buscam causas e efeitos, e tentam o lenitivo para o sofrimento de todos.

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Dando seqüência o livro “O Cavaleiro de Numiers”, onde reencarna Ruth-Carolina de La Chapelle como Berthe de Sourmeville-Stainesbourg, e Luis de Narbonne na pele de Henry de Numiers, assim como outras personagens do primeiro romance da série, desejosos de melhorias morais ou de auxiliar seus irmãos na dura caminhada para o Amor verdadeiro.

Neste, a é história ambientada no Flandres do século XVII, onde vemos ainda uma trama repleta de amor apaixonado, traições que por vezes pioraram a carga de espíritos já tão endividados, as obsessões trazidas de outra vida, os ódios tão necessitados de transformação, e sempre o remorso após o desencarne, levando à reflexão na busca de cumprir as Leis Divinas.

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Finalmente em “O Drama da Bretanha” voltamos a ver os nossos personagens em nova reencarnação, alguns mais mansos e compreensivos quanto ao Amor Fraternal, buscando reerguer amigos espirituais que apenas aumentaram sua carga de débitos na última vida e que ainda teimam em não se corrigir. Aqui a história passa-se na Bretanha do século XIX, Ruth-Carolina de La Chapelle aparece como Andrea de Guzman d’Albret perseguida por obsessor até a sua morte; e Luis de Narbonne é Arthur de Guzman d’Evreux que amarga as conseqüências de um suicídio na sua vida passada

Toda a série é repleta de ensinamentos, levando-nos a refletir a respeito de nossas vidas e os dramas que se passam no invisível, bem como as Leis Divinas se aplicam sempre. Demonstra que nossos caminhos dependem apenas de nossas ações e de nossa vigilância, pois nossos pensamentos são influenciados tanto por desafetos como pelos nossos amigos espirituais e a nós compete discernir baseados sempre no Amor Fraternal. É leitura obrigatória para conhecimento das tramas da obsessão.

Perséfone Hades(Bia Unruh) mergulhando nos recônditos de sua alma e refletindo... sempre em busca de respostas nas brumas do inconsciente...

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sábado, 11 de abril de 2009

Quando Foi?


Foi quando me sentei à praia observando os grãos de areia que luziam ao sol da tarde, e atentando para os incontáveis mundos brilhantes daquele universo sem igual, que me senti pequena...


Foi quando me peguei olhando as estrelas naquele infinito veludo azul escuro, e mirando as ilimitadas possibilidades de Deus, que me senti viva e imensa...
Imensa de alegria. Imensa de amor.

sábado, 4 de abril de 2009

Memórias IV

 crianças1

Todo momento para uma criança é mágico.

Minha irmã e eu vivíamos esta magia, naquele quintal.

Era uma área enorme, para nós, em frente da nossa casa. Há mais ou menos dez passos da porta de entrada ficava uma escada, não muito íngreme, com 7 ou 8 degraus, larga. Lá era nosso palco. Ali ensaiávamos nossas vozes infantis, com algum pedaço de madeira nas mãos ou um cabo de vassoura, à moda dos microfones da época. Estávamos na década de sessenta e as músicas eram as do Festival da Canção, que acompanhávamos na extinta TV Record, músicas do Roberto e Erasmo Carlos e da Vanderléia, ídolos da época.

Cantávamos a todo pulmão e esquecíamos do mundo. Éramos estrelas. Apresentávamos uma à outra como num programa de TV. E era o máximo, sempre que assim fazíamos, queríamos ser artistas, e ali naquele momento éramos.

A vizinha do lado direito, Dona Geo, era uma senhorinha a qual chamávamos de Vó Geo, vinha muitas vezes à cerca para nos ver e por vezes conversava conosco.

Nosso público era o cão vira-latas malhado de preto e branco que adorávamos, e muitas vezes teve de agüentar meu peso quando me fazia de  amazona. E nosso gato, um bichano castrado, grande e preguiçoso que dormia na minha cadeira preferida. Era maravilhoso viver aquelas tardes quentes e ensolaradas apenas a cantar.

jovem guarda

“ E aí vem, a minha amiguinha, Vanderléia.” Minha irmã entrava no palco e começava a cantar: “Por favor, pare agora, senhor juiz”...

Quando nos cansávamos de soltar a voz, íamos para o balanço, sob o abacateiro, lindo, maravilhoso, alto, uma árvore plantada por nós, que todo ano se carregava de frutas grandes e redondas, o melhor abacate que já comi. Eram tantas frutas que as distribuíamos para os vizinhos, cada abacate chegava a pesar 2kg e tinham uma polpa tenra e doce, que parecia manteiga.

Eu gostava quando mamãe cortava-os ao meio, retirava o caroço, cortava a polpa ainda dentro da casca e colocava açúcar e limão. Eu me fartava de comer aquela polpa agridoce deliciosa e macia, ainda hoje sou capaz de sentir o sabor e o aroma que tinha.

Era neste abacateiro que ficava o balanço, onde podíamos balançar alto como se fôssemos voar, sentindo o vento em nossos cabelos e rosto; às vezes eu virava bastante para trás, só para ver o mundo de pernas para o ar, e aquele céu azul por entre os galhos da árvore. Podíamos ficar apenas sentadas ali, por horas, chegando a cochilar no calor da tarde, abrir os olhos e ver o mundo tão claro, e ir para dentro de casa e enxergar tudo escuro, era engraçado e inexplicável, mas não nos importávamos com explicações deste tipo.

O Balanço - de Jean Honoré Fragonard

O Balanço - de Jean Honoré Fragonard

O balanço também era local para conversarmos com a Dona Geo, ela fica falando da sua terra, Alagoas, e da época em que era criança, às vezes eu achava que ela sentia saudade do balanço dela, lá na sua casa de criança...

Perséfone Hades

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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Memórias III

Naquelas épocas, o tempo andava devagar, como se quisesse saborear cada pequeno naco da passagem do sol e da lua.

O sol brilhava com muita intensidade, mas seu calor era gostoso na pele, lembrando o ventre da mãe. As manhãs pareciam render muito, os almoços feitos de forma lenta e artesanal com amor e carinho.

A escola nos entretinha e ensinava coisas de um mundo que queríamos conhecer, tudo era novidade.

As tardes modorrentas, à sombra do abacateiro ou do caramanchão de maracujá doce, o cheiro de flores no ar, a poeira vermelha subindo em nuvens às brisas de primavera.

Crianças a beira do pequeno córrego que escorria do tanque, com varas feitas de galhos secos e na ponta do fio uma folha amarrada, sonhando com pescarias.

O gato dormindo sob a goiabeira ou sob a janela do quarto de mamãe. O cão vira-latas da melhor espécie, deitado na área curtindo o calor do final de tarde.

Tudo calmo, cada detalhe não escapava. Tínhamos a eternidade para observar os movimentos lentos da lesma sobre a grama, do caracol que procurava o lugar mais fresco e úmido para botar, a formiga no trabalho de cortar preciso e sem pressa, o caminhar tortuoso de uma joaninha nas folhas da roseira.

O mundo parecia mais bonito, limpo, cheiroso, tranqüilo...

A noite descia lânguida, namorando longamente com a tarde, o sol via a lua surgir tímida e beijava-a com seus últimos raios num cumprimento de boa noite lento e amoroso. Ali deitados na grama, com todo o Universo acima de nós, ficávamos a divagar sobre as existências, sobre a vida, e quase que podíamos tocar as estrelas. Papai e mamãe de mãos dadas, aconchegando-nos e brincando de contar estrelas conosco. Às vezes, uma estrela cadente, e uma conversa tola sobre discos voadores, outros planetas, um devaneio sem fim...

O sono era reparador, cheios de sonhos alegres, sonhos luminosos com muita luz e cores. Acordar pela manhã era uma festa, a felicidade de ver novamente o olho do sol.

Naquela época o tempo caminhava e saboreava o prazer de ver o espreguiçar de cada folhinha do jardim...

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Giverny - França - Jardim da casa de Monet

Perséfone Hades

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domingo, 22 de março de 2009

Tibouchina granulosa

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Quaresma...

Suas simples flores

em copas na serra

derramam cachos de luz violeta

a esterilizar a alma da Terra...

(... limpa também os corações dos homens...)

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Quaresmeira

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sexta-feira, 20 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Hades


anjo e demonio 


Aguarda
Circunspecto
Alma constricta





Seu trono?
a pedra gélida deste calabouço
Companheiros?
Cérbero e o gemidos dos condenados



Coração de gelo
Descompassado
esquenta
Espera a amada
promessa de Zeus


Voz feroz ecoa
Que parem os lamentos!




Alma impaciente
em silêncio
espera





Imperador das Sombras
Rei do Inferno
se comove
ante a visão



Sua Amada
aproxima-se...

Doce Perséfone
Traz cheiro de vida
Sorriso terno


Acolhe seu amado
em seio farto e branco
Sossega, Amado!
Cá estou
Ascendo consigo...


Hades
aconchegado
suspira
seu único refrigério
a Amada querida...


 Luz!







Perséfone Hades (Bia Unruh)
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Insônia


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Noite negra consome
homens que silenciaram seus gemidos
a mente vaga por labirintos
o ser rola
a cama enorme é desespero
circulam fantasmas
olhos esbugalhados



o corpo acorrentado...
a mente amordaçada...





quatro paredes encaixotam o ser
esgota-se o tempo
coam-se emoções
concentram-se sentimentos
a fonte agrilhoada

caminham espectros
bocas sem sons



o corpo cansado...
a mente encarcerada...







Perséfone Hades
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Memórias II

 flutuando no mar azul

Que estranho!

Como vim parar aqui?

Tomo consciência do lugar onde estou.

Primeiro foi uma luz intensa, que me cegou e dormi.

Acordo num mar de líquido viscoso, quente, agradável, procurando nadar, mas parece que este oceano não tem fim.

Não tenho medo, respiro bem, apesar de este líquido impregnar meus pulmões.

Estou presa pela cintura a uma corda pulsante.

Este lugar está sempre em penumbra, não enxergo bem, mas aqui é gostoso, acho que nunca estive num local com tamanha paz. Já nado e encontro as paredes macias e cheias de reflexos sangüíneos, parece que estou dentro de um ovo...

Há sons abafados. Um pulso que parece manter-me viva: tum-tá, tum tá..., sinto-me segura. Por vezes este som fica acelerado e sinto medo...

Ontem senti tristeza, doía-me o peito imensamente, abriu-se e contraiu-se e então chorei...

Hoje minha alegria não cabe em mim, o riso me lembra algo, não sei bem, é bom...

Este lugar é engraçado, estou sozinha e sei que não estou, mas já chamei e não me ouvem; escuto uma canção doce. Sempre que me agito e bato nestas paredes vem esta canção que me acalma e me faz dormir...

Meus sonhos são viagens, já estive em tantos lugares... vi tantas coisas e pessoas...

Está ficando meio apertado aqui, já não consigo nadar com liberdade, as paredes têm ficado mais rígidas, são como uma bexiga prestes a estourar.

E se estoura? irei nadar num mar maior? e se o mar secar? como respirarei sem ele? será frio? será quente? Tenho medo, estou segura aqui há tanto tempo...

Bebes - Graphics, Graficos e Glitters Para Orkut

...

Ah! que incômodo! Desde ontem as paredes se fecharam sobre mim. Estou sentada nesta armadilha.

O mundo a minha volta me comprime e eu empurro. É uma briga... o que está acontecendo?

Ouço gritos, uma agitação, estamos em guerra? O pulso que me acalmava está forte e acelerado e dói-me a cabeça.

Bato como posso nestas paredes, grito que parem, mas ninguém me escuta.

Quanto mais bato, mais sou empurrada. Sinto uma pressão enorme de cima para baixo, minha nádega comprimida no fundo deste ovo.

Em baixo há movimentação e a casca começa a quebrar, tenho medo...

Contraio-me toda para encontrar mais espaço, as paredes parecem prensas e mais me apertam.

A parte de baixo está aberta... gritos, muitos gritos... estou apavorada!

Minha nádega entrou no buraco desta casca, os ossos de minha pelve se acotovelam, parecem quebrados, dói...

Socorro! Tenho medo, grito desesperada. O som penetrou dentro de mim e pulsa meu corpo todo, meu abdome vai explodir! A cabeça parece uma bomba! A pelve apertada naquele canal, dor... As pernas quebradas se dobram e meus pés vêm de encontro ao meu rosto!?

Algo puxa minha pelve, pesca uma das pernas, pesca a outra, que dor!

O pulso vai arrebentar meu abdome. Luto, mas sou empurrada para baixo, em direção daquele túnel... o líquido já saiu todo e sufoco...

O que puxou minhas pernas puxa agora meus ombros e braços. Mais gritos serão talvez os meus gritos. Como isso dói!

Agora minha cabeça se comprime, já não consigo gritar, meus ossos do crânio estão comprimidos uns sobre os outros, meu cérebro dói...

De repente luz! Estou cega novamente, pendurada por algo viscoso pelos pés, um tranco em minha nádega, que dói... meu peito é um ferro em brasa... estou quebrada... cada osso do meu corpo dói...

Uma tristeza sem fim toma conta do meu peito que queima a cada movimento...

Choro... Estou cansada...

Tudo é dor...

Perséfone Hades(Bia Unruh)

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