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quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Refletindo sobre a vida

Fotografia por Bia Unruh


E assim vivemos nesta Matrix, tal qual lagartas aprisionadas em suas crisálidas...
Quando a borboleta?

Pérsefone Hades

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Areias do Tempo





Escorrem rapidamente

Mais do que o meio já passou


Aqui e ali

Pequenos cristais multicolores

Mostram o vivido


Quantos grãos ainda a viver

Mas já passaram...


Algumas dunas

Tornaram-se muralhas intransponíveis...


Perséfone em Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac...


domingo, 28 de outubro de 2012

LUZ!



Quero estas cores
Quero este calor
Quero mais amores
Quero o dia que for

Luz!

(Perséfone procura a Primavera...)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Carta a minha Mãe


Querida Mamãe,
Minha amiga e companheira de tantas existências,
Agradeço que tenha cedido tão amorosa e gentilmente seu corpo, para que eu pudesse, de novo, seguir meus passos de desenvolvimento nesta nova existência,
Agradeço sua paciência e dedicação em guiar-me novamente no caminho da retidão,
Agradeço seu amor incondicional e abdicação, que tantas vezes deixou seus desejos para ajudar a realizar os meus,
Peço perdão pelas tantas vezes que não pude compreendê-la em suas atitudes e formas de me guiar,
Peço perdão por muitas vezes não ter demonstrado ou correspondido ao seu carinho e amor.
Espero ter ao menos satisfeito a sua ânsia de orientar-me pelos rumos certos,
Espero que ainda em muitas outras existências possamos ascender juntas, minha amiga.
Agradeço a Deus por ter colocado você no meu caminho para que também participasse como guia espiritual nas trilhas perigosas que já seguimos juntas,
E peço a Divina Chama que habita em todos nós, que ilumine suas estradas, como iluminaste as minhas.
Obrigada!
Te Amo!
Sua amiga de sempre,

Bia Unruh

quarta-feira, 28 de março de 2012

Reflexos de Nuwanda em Mim



Nuwanda: Escrevivendo

E nessa tua estranheza
mergulho...
Revelando-me
a mim mesma
na inquietação de tua alma...

Perséfone Hades (Bia Unruh) tocada, mais uma vez pelo Poeta...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher




Conta a história que no dia 08 de março de 1857, 130 mulheres morreram queimadas, trancadas numa fábrica de Nova Iorque, durante uma greve em prol de redução de jornada de trabalho  de 16 para 10 horas.
Em 1910, na Dinamarca, uma Conferência Internacional de Mulheres, decidiu fazer do dia 08 de março o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem àquelas mulheres. 
Dizem que a partir daí iniciou-se o processo de emancipação da mulher.


Que no dia de hoje possamos, sem ingenuidade, não, comemorar  mais uma data sem sentido, mas refletir sobre os papéis da mulher na sociedade, ouvindo e compreendendo a poesia do sempre atualíssimo, lúcido e consciente John Lennon.

Perséfone Hades pensando a sua escravidão e de todas as mulheres, minhas irmãs neste mundo...

sábado, 16 de outubro de 2010

Medo


Paraliza-me esta sensação
Memórias do que não vivi
Tristeza por outros
Receio de abrir este peito
Medo de encarar minhas possibilidades...
A dor de outros entra-me na alma...
Minha sombra repleta das sombras do mundo...
Imagens desdobrando-se
Meus Eus, por aí afrontando realidades...
A mente presa num calabouço...
Até onde este escuro?
Até onde o medo...

Perséfone Hades (Bia Unruh)
Eu títere de mim mesma...

Publicado em: http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/pagina_textos_autor.php?cdEscritor=1077


sábado, 10 de julho de 2010

Abatida





E lá vamos nós
angustiados e feridos
tentando aplacar nossa dor

Será que quero me apaziguar?

Nos encontros
nos desencontros
nos olhares doloridos

Parece que nada acalma
a dor abre mais cada chaga

E entrego-me aos pedaços...


Perséfone Hades

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domingo, 4 de julho de 2010

Mosaico


Somos todos pedaços e partes de nós e daqueles que nos esbarraram

Resta-nos esta miscelânia
tão intrincados nos desenhos desta tapeçaria
que, por vezes nos perdemos de nós...

Perséfone Hades -  A Sombra de Bia Unruh

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quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Apocalipse Dentro de Nós



Os  Quatro Cavaleiros

Em meio à bruma, o Cavaleiro Branco surge como um raio, vem com retidão para vencer.
Com ribombar de trovões, chega o Cavaleiro Vermelho e tira nosso sossego para que matemos as nossas mazelas.
Sorrateiramente surge o Cavaleiro Preto, balança à mão, pesa sentimentos e corações...
Do caos da superfície e da profundidade da consciência, ergue-se o Cavaleiro Amarelo da transformação.
Esta disputa acontece dentro  de você,  é algo muito profundo, constante e  renovador na metamorfose da alma para os  novos dias que virão.


Perséfone Hades conscientizando-se do seu Apocalipse...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Melancolia


Dói-me a melancolia destes momentos
Meu peito parece explodir
minha alma enclasurada

Meus olhos marejam
a mente vaga
sem rumo

Atesto minha insipidez
e como dói!

Perséfone Hades

Publicado em: http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/pagina_textos_autor.php?cdEscritor=1077

domingo, 4 de abril de 2010

Fluxo




Flui na corrente afável do dia
pensamento, sonho, fantasia...
Pensamento de tu seres dia,
Sonho de dia ser tua,
Fantasio o fluxo do dia em ti...
Flui na gentil torrente do ser
brilho, alegria, luz...
Brilho alegre da luz... dia
Flui no fluxo amável de ti
força, coragem, tensão...
Força do dia em ti,
Coragem tua de ser luz,
Tensão no curso de ser...
Ser correnteza em tensão em ti...

Perséfone Hades


segunda-feira, 8 de março de 2010

"Dia da Mulher"


Vocês têm reparado como é comum hoje atribuir-se uma data especial às chamadas "minorias"?
Afinal que tipo de homenagem é esta?
Que mensagem os que se acham "maiorias" ou "superiores" estão passando de forma oculta?
Pense!
Será que tentam simplesmente aplacar o descontentamento de mulheres, negros, gays, etc?
Ou querem expiar sua culpa pela discriminação feita de forma subreptícia?
É hora de dar um basta em tudo isso!
Queremos apenas continuar dando nossa parcela como seres humanos, sempre de forma justa e pelas habilidades que todos temos...
Não somos incapazes!
Queremos flores, abraços, apertos de mãos todos os dias e não só nas tais datas especiais!
Queremos empregos dignos, escolas, oportunidades em todos os níveis, queremos fazer nossas próprias escolhas de forma digna.
Todos temos um lugar ao sol e temos a capacidade de conquistá-lo é apenas isso que reivindicamos!


Perséfone Hades (expressando sua indignação por este tipo de "data especial"...)


domingo, 3 de janeiro de 2010

Caminhando

De pés nús
abrindo
caminho

Estradando
sou
Estradando
vou...

Sem atalhos
sem veredas

Pés nús
pés firmes
estradando
meu destino

Perséfone Hades (Bia Unruh)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Navegando...


Singro mares
Universo pulsando
vida...

Meu barco
fantasma de mim
triste...

Oceano lágrimas
esbarra em terra
dor...

Porto a vista
busca termina
LUZ...


Perséfone Hades (Bia Unruh)






terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Coração

Casa abandonada

onde gemem fantasmas

amores não vividos…

 

Perséfone Hades   (…sozinha… …)

 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Memórias V

 A_Persist_ncia_da_Mem_ria_Dali

A Persistência da Memória (detalhe) - Salvador Dali

Algumas experiências, em nossas vidas, têm mais peso que outras. Há as que nos acompanham para sempre.

Era o ano de 1964, início do primeiro ano escolar. Um belo dia de sol brilhando ainda com as luzes do verão.

Saia azul de preguinhas, blusa muito alva de golinha arredondada, meia ¾ branca, sapatinho preto novinho em folha; cadernos encapados e lápis apontados, pasta onde guardar tudo, um cheirinho de coisa nova. Tudo bonito e novidade.

Mãos dadas, mãe e filha, lá se vão para o primeiro dia na escola. Caminho estranho, cheio de novidades, casas diferentes, algumas mais bonitas, outras muito velhas.

O calor da mão de mamãe dava segurança, seus passos firmes mostravam o caminho e nada havia a temer. A voz suave dizia que seria um dia maravilhoso, aprender era uma coisa boa, poder ler tudo seria incrível. Desenhar, fazer contas...

A escola parecia enorme. Um muro muito alto, um portão largo e aberto de par em par parecia dizer: “Bem vindos!” O prédio retangular, como tinha janelas e eram enormes!

Mãe e filha adentraram e desceram a rampa que dava acesso ao pátio. Nossa como tinha gente! A maioria das crianças usava o mesmo uniforme, algumas usavam roupas comuns e chinelos, como se fossem brincar.

As mães tagarelavam entre si. Mamãe parecia um pouco apreensiva, mas sorria cordialmente quando colocou sua filha na fila indicada para a professora Marília e ficou ao lado esperando. Muito alarido, crianças e mães falando, e as duas se olhando.

Bate o sinal e todos começam a andar, as mães ficam, a menina corre de volta para a mãe, não queria ir, tinha medo de ficar sem a sua mãe.

A mãe tenta acalmar a menina, que já chorava, dizendo que ia ficar ali esperando e que ela podia seguir tranqüila com seus novos coleguinhas. Mas a pequena não queria ir. Então como todos já tivessem entrado, a mãe acompanhou a filha até a sala de aula e a colocou nas mãos habilidosas da professora e continuou ali ao lado de fora, como para dar segurança à filha.

Quando a menina foi levada para a sua carteira, a professora foi doce como a mamãe e também assegurou que a mãe ficaria esperando. A menina olhava as outras crianças quietas e calmas e acabou por serenar.

Neste primeiro dia a professora começou pela letra A e ensinou a escrevê-la e todo um universo novo se descortinava.

A sala de aula tinha muitas mesas acopladas a cadeiras que eram chamadas carteiras; o chão de assoalho com tablado na frente onde ficava a lousa e a grande mesa da professora, cheia de livros e cadernos sobre ela três imensas janelas que davam para frente da escola e podia-se ver a rua; e uma porta com uma janelinha de vidro; era outro mundo, tudo parecia maior.

Dona Marília era bonita, alta, magra, longos cabelos castanho-escuros, olhos inteligentes e meigos, voz suave e calma, mantinha todos atentos à lousa e seus cadernos e cartilhas; uma mulher adorável, que facilmente se percebia, adorava estar ali conosco.

Os dias iam se passando e depois de um tempo, disputávamos quem carregaria a bolsa da professora; a menina já não se lembrava das lágrimas do primeiro dia, e tinha sempre uma descoberta nova para levar para casa e dizer à mãe o que aprendera.

Os cadernos iam sendo utilizados e tinham ali as primeiras letras; a lição de casa, sempre em grande quantidade nos ocupava por um bom tempo extra quando voltávamos para casa.

Todas as lições foram aprendidas e passamos, com louvor, para a segunda série.

A Cartilha

Um livrinho retangular, grosso para nós, naquela idade, pois apenas conhecíamos livrinhos finos e cheios de figuras. A capa mostrava uma criança andando por um caminho com um arco-íris no céu, daí seu nome: ” Caminho Suave”.

A primeira lição A de abelha, depois B de boi, C de cão, D de dado e assim por diante. Começamos pelas vogais e repetíamos infinitamente os movimentos que formavam cada letra. Hoje não sei se conseguiria repeti-los com a técnica que nos era ensinada. Parecia uma ciência muito difícil e importante, repetir os caracteres daquela forma.

Aos poucos as letras se juntaram e B com A ficava BA e se uníssemos dois BAs, tínhamos a palavra BABA ou BABÁ. Mais um pouco e se formavam aos nossos olhos atenciosos, frases como: “O boi baba”, “A babá ninou o bebê”. Nossa que incrível!

Imagino que todos nós passamos por estes momentos de pura magia, quando descobrir as letras e poder lê-las em qualquer lugar era o mais espantoso dos feitos.

E foi pela dedicação da Dona Marília, que me capacitei a estar aqui agora escrevendo e relembrando-a com ternura. Aonde quer que a senhora esteja, Dona Marília, o meu muito obrigada, e que seja abençoada pela sua dedicação a todos que alfabetizou.

Perséfone Hades

Publicado em http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/pagina_autor.php?cdEscritor=1077

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Nas Sombras

Era irresistível aquela sensação, meio adormecida, meio acordada, permanecia na cama entre divagações e sonhos, após a dose de soníferos que ela tomara para não pensar.

Não notou em qual momento surgiu aquela feição caquética a sua frente e não saberia dizer se estava de olhos abertos ou fechados, mas era muito nítida aquela figura, que causava-lhe asco e tristeza.
Era uma mulher muito enrugada; magra quase aos ossos; olhos esbugalhados, vidrados, que sobressaiam da face macilenta dir-se-ia mais uma máscara; boca hirta com lábios adelgaçados quase invisíveis como que rascunhados no pergaminho que era sua pele; os poucos fios de cabelos não cobriam todo o couro cabeludo e escorriam para além da cintura, feito raízes velhas, finas e ressecadas; os peitos como pingentes moles e sem vida faziam um pequeno volume de cada lado do tórax e abdome até o umbigo sob as vestes rotas; as pernas e braços, como varetas de bambu cheias de nós, saiam do tronco e terminavam em extremidades tão afiladas, que pareciam ter apenas dedos.
A estranha mulher dirigiu-lhe, então, o olhar vazio, e naquelas órbitas ela se sentiu entrar, como que sugada por um túnel frio e pegajoso. Viajava a uma velocidade estonteante, e esbarrava em teias de aranha pelo caminho, apavorada queria voltar, sair daquele oco escuro e profundo, mas parecia que quanto mais desejava sair mais rápido ia ao fundo.
Foi visualizando quadros que bem conhecia.
A infância triste e sozinha no orfanato, crianças amigas suas que iam sendo adotadas em detrimento dela, a raiva e a inveja que acumulava nos recônditos de sua alma a cada adoção, o ódio e a incompreensão pelo abandono, o choro com os dentes apertados e as mãos crispadas ao travesseiro em ira.
Os maus tratos que sofreu, enquanto adolescente, sempre se sentindo preterida a outros, e o rancor e mágoa que se acumulavam. Então,a fuga do orfanato que a levou para as ruas onde conheceu a dor e o pavor, na violação de seu jovem corpo, nas noites mal dormidas sob marquises e viadutos.
A vida adulta no bordel, maltratada ainda pelos homens e mulheres, esvaziando-se cada vez mais de vida e luz e tornando-se uma negra mancha disforme cheia de cancros pelo corpo e retalhos pútridos de maus sentimentos corroendo-lhe a alma. Foi quando começou a quebrar todos os espelhos, iludindo-se que sem eles se tornaria melhor.
Viu, ainda, cenas de uma velhice precoce, esgotada e amarga, onde não conhecia mais o seu rosto, o espírito carregado de ódio por si mesma, desfazia-se em meio as areias da ampulheta do tempo, transformando-se em finos grãos que se espalhavam nos desertos de seu íntimo.
Desejava a morte mais que tudo, como um alívio para uma vida que mais lucraria em nunca ter existido. Mas, ilusão, ao morrer percebera que ainda sobrevivia, e pior, seu próprio fantasma a assombrava em questionamentos inúteis do que tinha feito para si mesma naquela existência, e aterrorizada via-se, qual caquética figura, no espelho de sua alma, o qual não poderia jamais quebrar. A tortura continuava sem fim.
Soprou, então, um vento invisível, que a fazia rolar e rolar em espiral retrógrada, completamente cega, imersa num mundo esponjoso.
Uma pequenina estrela surgiu no horizonte e foi crescendo até que num Bum! ela abriu os olhos e estava deitada em sua cama coberta de suor, o frasco de comprimidos vazio ao seu lado, o copo de água espatifado no chão.
Levantou-se com dificuldade, ainda entorpecida, agradeceu aos céus por estar de volta, prometeu-se nunca mais tomar quaisquer drogas e bendizer cada dia vivido dali para frente, foi para o chuveiro, e chorando lavou corpo e alma.

Perséfone Hades

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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Perda

Pastor de Ovelhas em Israel
Antonio Furdiani
Que dia excepcional!
O sol brilha num céu azul que há muito não se via. As montanhas têm um tom de verde vivo e delineiam o horizonte até onde a vista alcança. As ovelhas estão animadas e os filhotes saltitam na relva em brincadeiras, as mães-ovelhas balem como se repreendessem seus filhos pelas peraltices. A relva deste ano está mais verde, cheia de brotos a crescer.
Ao longe, lá no alto da colina, fumega a chaminé do fogão de casa, mamãe está a preparar pães doces, hoje, a pedido meu. Desde que papai viajou, há algumas semanas, não a via tão animada com algo. Hoje, pela manhã, sorria e cantarolava enquanto preparava o desjejum.
- Bom dia! Meu querido e feliz aniversário! Venha sentar, tenho aqui um bolo especial que fiz para você, e quero ver meu homenzinho forte e alegre como seu pai. Pressinto que o dia será maravilhoso com um lindo sol para brindar seu natalício!
Mamãe era assim, sempre fazendo coisinhas de que gostávamos, por vezes passava horas na cozinha a tramar alguma receita gostosa. Ela adorava adornar a casa com lindas cortinas feitas à mão, toalhas bordadas sobre a mesa, delicadas cestas de fibras feitas por ela estavam sempre cheias de frutas, e todos os dias mimava seus “homens da casa”, como costumava dizer.
Eu estava fazendo 14 anos e pastoreava desde muito pequeno naquele vale que fazia parte de nossa propriedade, os nossos cães eram os melhores, e não me lembro de termos perdido uma só ovelha para os lobos tão comuns naquela região. Ficávamos até a tardinha no vale e depois levávamos as ovelhas para um curral, próximo à casa, onde passavam a noite, mas todos os dias elas precisavam de relva fresca para crescerem fortes. Nos primeiros dias da primavera ajudava papai a tosquiar as ovelhas, então uma grande parte da lã era amarrada em fardos e papai viajava para as cidades próximas para vendê-la. Já fazia quatro semanas que papai havia viajado com uma das melhores partidas de lã dos últimos anos, ele parecia muito feliz com a produção, e certamente traria novos produtos da cidade para nosso consumo.
Quando o sol estava a pino, mamãe trouxe meu almoço, batatas e salsichas com seu delicioso molho de mostarda e um daqueles pães para que eu mordiscasse à tarde. Enquanto comia, mamãe ficou a falar de como ela e papai esperaram com ansiedade para verem meu rostinho pequeno por entre os panos e como foi o meu nascimento, e como cresci tão rápido e agora era um homem com todas as responsabilidades de nossa fazenda nas mãos enquanto papai negociava.
Os dias se passavam assim, com muita tranqüilidade e eu sabia que deveria aprender tudo que podia, pois seria, também, um criador de ovelhas.
A tarde foi sonolenta e não trouxe novidades. O sol poente abrasou o horizonte buscando as verdes montanhas ao longe, então me pus a caminho de casa com meu rebanho e os cães.
Ia tranqüilo como se quisesse que aquele dia não terminasse. Depois de abrigar as ovelhas, sentei-me em uma pedra que ficava em frente à casa e fiquei a divagar sob um céu que começava a estrelar e o lusco-fusco do sol que já dobrava atrás das montanhas.
Pensei em quão boa era minha vida naquelas paragens onde Deus fazia morada, dia e noite, tudo era tão lindo e o artista deveria sentir-se orgulhoso daquele quadro. Mamãe e papai sempre tão alegres eram pessoas boas e ajudavam quantos por ali passavam.
Divagando e respirando os últimos raios de sol, subi as escadas que levavam ao alpendre, onde mamãe estava sentada a tricotar um novo par de meias. Ficamos ali sentados até que a noite caísse por completo e pudéssemos ver as estrelas no céu. Conversamos sobre as bobagens do dia a dia e mamãe falou de sua ansiedade para que papai voltasse.
Já passava das oito quando entramos, comemos e nos recolhemos para dormir. Fazia mais ou menos uma hora que tinha me deitado, quando ouvi o tropel de cavalos, levantei e fui à janela, e mamãe chegou em seguida, assustada, parecia suar.
Abri a porta para receber o meu tio, irmão de papai, que já apeava próximo as escadas. Ele vinha sério e assim que subiu as escadas, nos abraçou e olhando minha mãe nos olhos disse: “Sinto muito”. Aquela frase caiu como uma pedra sobre a minha cabeça, olhei em volta e vi que chegava logo atrás uma carroça, que vinha a passos lentos. Mamãe correu naquela direção e soltando um grito abafado e desmaiou; corri para ela e com auxílio de meu tio socorremos a pobre infeliz que já acordava e gemia dolorosamente pela morte de papai.
Senti-me como que anestesiado, e sou incapaz de lembrar os detalhes daquela noite, a não ser o choro baixinho de mamãe interrompido, de quando em quando, por soluços profundos que vinham do âmago de sua tristeza, e me faziam conhecer um sentimento do qual eu não tinha, ainda, experiência alguma.
Lembro-me vagamente do Pastor recitando o Salmo de Davi: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará... Ainda que eu caminhe pelo vale das sombras da morte...”; a colocação da lápide com o nome de papai; as pessoas nos apoiando no adeus final; os olhos de mamãe como contas de vidro - vazios.
Mesmo agora, sentado sobre minha pedra favorita no pasto, olhando para a imensidão das montanhas no horizonte, ouvindo o cão a ladrar para as ovelhas, pareço estar sonhando, e ainda reluto em compreender este sentimento de perda.
Minha cabeça dói, fecho os olhos, as lembranças volitam em torno de mim como pequenos pássaros, os rostos afiguram-se a retratos, minha memória parece irreal, um sonho talvez, e o mundo se torna um incomensurável espaço em branco.
Perséfone Hades
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