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sexta-feira, 8 de maio de 2009

O Sermão da Montanha - Parte 6

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“Bem-Aventurados os Pacificadores”

“A palavra latina pacificare, da qual é derivada pacificus, é composta de dois radicais (e o mesmo acontece em grego): pax e facere, isto é, “paz” e “fazer”. Pacificador (em latim: pacificus) é, pois, aquele que faz a paz, é um “fazedor de paz”, um homem que possui em si a força creadora de estabelecer ou restabelecer um estado ou uma atitude permanente de paz no meio de qualquer campo de batalha.

“A tradução “pacíficos”, em vez de “pacificadores”, que se encontra em muitas versões portuguesas, não corresponde ao sentido do original grego eirenopoíí, nem ao latim pac~fici, porque ambos significam um processo ativo e dinâmico, e não apenas um estado passivo de paz.

“Quem é, pois, verdadeiro pacificador?

“Não é, em primeiro lugar, aquele que restabelece a paz entre pessoas ou grupos litigantes, mas sim aquele que estabelece e estabiliza a paz dentro de si mesmo. Aliás, ninguém pode ser verdadeiro pacificador de outros se não for pacificador de si mesmo. Só um autopacificador é que pode ser um alo-pacificador. A pior das discórdias, a mais trágica das guerras é o conflito que o homem traz dentro de si mesmo o conflito entre o ego físico-mental da sua humana personalidade e o Eu espiritual da sua divina individua­lidade. Se não houvesse conflito interior, entre o seu Lúcifer e o seu Lógos, não haveria conflitos exteriores na família, na sociedade, nas nações, entre povos. Todos os conflitos externos são filhos de algum conflito interno não devidamente pacificado. Por isso, é absurdo querer abolir as guerras ou revoluções de fora, as discórdias domésticas no lar ou no campo de batalha, enquanto o homem não abolir primeiro o conflito dentro da sua própria pessoa.

“O grande tratado de paz tem de ser assinado no foro interno do Eu individual antes de poder ser ratificado no foro externo das relações sociais. Nunca haverá Nações Unidas, nunca haverá sociedade ou família unida enquanto não houver indivíduo unido. Pode, quando muito, haver um precário armistício (que quer dizer “repouso de armas”), mas não uma paz sólida e duradoura enquanto o indivíduo estiver em guerra consigo mesmo. Que é um armistício se não uma trégua, maior ou menor, entre duas guerras? Paz social, segura e estável, supõe paz individual, firme e sólida.”

*

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“Quando o homem é mau e desabrido com os outros é porque não tem paz interior e sente a necessidade de descarregar o exces­so da sua infelicidade — “nervosismo”, na linguagem eufemística de cada dia — em alguém ou em alguma coisa, e os objetos mais próximos servem de para-raios para essa tensão do homem infeliz. Propriamen­te, deveria esse homem ser áspero consigo mesmo, o principal culpado; mas, como o egoísmo não lhe permite semelhante sinceridade, são os inocentes ou os menos culpados não raro, até coisas e animais domésticos alvo dessa irritação do homem intimamente desarmonizado consigo mesmo.

“Quando o homem tolera a si mesmo, graças a uma profunda paz de consciência, todas as coisas e pessoas do mundo são toleráveis; mas, quando o homem, de consciência insatisfeita, não se tolera a si mesmo, nada lhe é tolerável.

“O remédio não está em mudar os objetos, mas em corrigir o sujeito. Isto, porém, supõe uma sinceridade muito difícil e rara.”

*

“A paz é, pois, um atributo do ser, é algo qualitativo, algo que tem afinidade com o EU SOU do homem. O homem que tem plena consciência do seu divino EU SOU não tem motivo para brigar ou declarar guerra a alguém por causa dos teres, que desunem os homens profanos. Mesmo que os outros o tratem com injustiça por causa dos teres, o homem espiritual sabe que todo esse mundo quantitativo do ter é pura ilusão: ninguém pode ter algo que ele não é, só o nosso ser é realmente nosso.

“Por isso, o homem que chegou ao conhecimento de si mesmo é invulnerável; ninguém pode prejudicá­-lo, ninguém pode ofendê-lo, ninguém pode empobre­cê-lo, ninguém lhe pode infligir perda de espécie alguma, uma vez que ninguém pode obrigá-lo a perder o que ele é, e aquilo que ele tem não o enriquece nem a sua perda o empobrece.

“A paz nasce, portanto, de uma profunda sabedoria, do conhecimento da verdade sobre si mesmo. Quem conhece essa verdade é livre de todo o ódio, tristeza, rancor, senso de perda e frustração.”

*

“Uma pessoa profundamente harmonizada em si mesma irradia harmonia ao redor de si e satura dessa imponderável e benéfica radiação, todas as coisas.

“As suas auras benéficas envolvem tudo em um halo de serenidade e bem-estar, de fascinante leveza e luminosidade, que atuam, imperceptível, porém, seguramente, sobre outras pessoas receptivas.

“O homem que estabeleceu a paz de Deus em sua alma é um poderoso fator para restabelecer a paz em outros indivíduos, e, através destes, na sociedade. Não é necessário que fale muito em paz, que aduza eruditos argumentos propace — basta que ele mesmo seja uma fonte abundante e um veemente foco de paz.

“O filósofo místico norte-americano Émerson disse, certa vez, a um homem que falava muito em paz, mas não possuía paz dentro de si: “Não posso ouvir o que dizes, porque aquilo que és troveja muito alto.”

“Quem não é pacificado dentro de si mesmo, não pode ser pacificador fora de si.”

Huberto Rohden

Para aqueles que queiram ler os textos integrais recomendamos o link: http://www.esnips.com/doc/6fda8dc4-a4e1-48a3-87ae-8085b9eb532a/Huberto%20Rohden%20%3E%20O%20Serm%E3o%20da%20Montanha%20-%20Huberto%20Rohden

 

 

 

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Sermão da Montanha - Parte 5

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“Bem-Aventurados os que Têm Fome e Sede da Justiça”

“Esta bem-aventurança visa, sobretudo, os insatisfeitos, os descontentes consigo mesmos, os que sofrem o tormento do Infinito, a nostalgia do Eterno, os que vivem ou agonizam em uma estranha inquietude metafísica, os que crêem mais no muito que ignoram do que no pouco que sabem.”

*

“Antes de tudo convém esclarecer o que aqui se entende pela palavra “justiça”. Esta palavra, toda vez que ocorre nas sagradas Escrituras, significa a relação ou atitude justa e reta que o homem assume em face de Deus. Não se refere à justiça no sentido jurídico, do plano horizontal, como é usada na vida social de cada dia. Justiça é, pois, a compreensão intuitiva de Deus (a mística) e o seu natural trans­bordamento na vida cotidiana (a ética).

“Jesus proclama felizes os que têm fome e sede dessa experiência íntima, os que estão insatisfeitos com o pouco ou muito que alcançaram no caminho árduo da sua cristificação. Sabem que estrada imensa lhes resta ainda a percorrer; mas sabem que é glorioso continuarem a andar rumo a seu grande destino. São como aves migratórias que, à aproxima­ção do outono, percebem em si o tropismo de regiões distantes, nunca vistas, onde a luz e o calor, já em declínio na zona do seu habitat, se acham em plena ascensão. Daí o misterioso magnetismo que as atrai para regiões longínquas.

“Para que o homem sinta em si essa espécie de nostalgia metafísica, deve ele ter ultrapassado certas fronteiras de vivência comum; deve sentir certo can­saço — ia quase dizendo pessimismo — da vida terrestre, deve sentir, com maior ou menor intensidade e nitidez, o anseio de algo que nunca viu, mas de cuja existência tem intuitiva certeza. O homem que ainda vive totalmente engolfado nos afazeres da lufa-lufa comum dos profanos, caçadores de matéria morta e carne viva , esse não está maduro para ter fome e sede de um mundo invisível. Antes de sentir essa fome, terá de experimentar o fastio daquilo de que agora tem fome. “Quem bebe desta água (das coisas materiais) torna a ter sede (das mesmas); mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede (das coisas materiais)” porque esta água se lhe tornará em uma fonte que jorra para a vida eterna.

“Sendo que as coisas materiais não apagam o desejo; pelo contrário, quanto mais gozadas tanto mais acendem o desejo, porque a posse aumenta o desejo, e o desejo exige novas posses — os profanos têm de intensificar cada vez mais os estímulos para sentirem ainda novos gozos; e, não raro, procuram narcotizar-se com os pequenos finitos de cada dia para não sofrerem a insatisfação de que estas coisas não podem dar definitiva satisfação. Em vez de ultrapassarem a barreira das quantidades e entrarem na zona da qualidade, tentam aumentar as quantidades - assim como quem bebe água salgada para apagar a sede, acendendo-a cada vez mais.”

*

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“O divino Mestre proclama felizes os que sofrem essa fome e sede da experiência de Deus, porque eles serão “saciados”.

“É certo que, um dia, em outros mundos, essa nostalgia será satisfeita, porque a natureza não engana seus filhos, impelindo-os a um alvo fictício. Se existem terras tropicais adivinhadas pelas aves migra­tórias das zonas frias, não pode deixar de existir aquele mundo que os anseios metafísicos dos melhores dentre os filhos dos homens sentem nas profundezas da alma.

“Ainda que o finito em demanda do Infinito tenha sempre diante de si itinerário ilimitado, e jamais chegará a um ponto onde lhe seja vedado progredir ulteriormente — porque não há “luz vermelha” nos caminhos de Deus — é certo que o humano viajor chegará a um ponto em que a sua compreensão e amor de Deus o tornará profundamente feliz.”

Huberto Rohden

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domingo, 3 de maio de 2009

Poetas Brasileiros IV - Zé Ramalho

José Ramalho Neto, nascido em Brejo da Cruz, Paraíba (3/10/1949), conhecido no meio artístico como Zé Ramalho, é outro grande poeta do Cancioneiro Nacional.

Mistura ritmos do Nordeste Brasileiro e Beatles, Bob Dilan, Raul Seixas, e outros; fazendo um som característico seu; que casa muito bem com sua voz de "trovão", que por vezes ribomba com poesias cruas sobre o quotidiano, ou fantasias que nos extasiam.

A Peleja do Diabo com o Dono do Céu

Com tanto dinheiro girando no mundo
Quem tem pede muito quem não tem pede mais
Cobiçam a terra e toda a riqueza
Do reino dos homens e dos animais
Cobiçam até a planície dos sonhos
Lugares eternos para descansar
A terra do verde que foi prometido
Até que se canse de tanto esperar
Que eu não vim de longe para me enganar
Que eu não vim de longe para me enganar
O tempo do homem, a mulher, o filho
O gado novilho urra no curral
Vaqueiros que tangem a humanidade
Em cada cidade e em cada capital
Em cada pessoa de procedimento
Em cada lamento palavras de sal
A nau que flutua no leito do rio
Conduz à velhice, conduz à moral
Assim como deus, parabéns o mal
Assim como deus, parabéns o mal
Já que tudo depende da boa vontade
É de caridade que eu quero falar
Daquela esmola da cuia tremendo
Ou mato ou me rendo é lei natural
Num muro de cal espirrado de sangue
De lama, de mangue, de rouge e batom
O tom da conversa que ouço me criva
De setas e facas e favos de mel
É a peleja do diabo com o dono do céu
É a peleja do diabo com o dono do céu

Cidadão

Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição, era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar"
Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar
Minha filha inocente vem pra mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me vem um cidadão:
"Criança de pé no chão aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo quela igreja moço, onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena, tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice, não se deixe amendrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra, não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas e na maioria das casas
Eu também não posso entrar"

Cristais do Tempo

Como são belos esses cristais
Que transparecem como manhãs
Embolam coisas em precipícios
Em cada ofício de suas mães
Eles imperam nos arrebóis
Nas carabinas e furacões
Em cada rosto é tão difícil
Ver o ofício de suas mãos
Nos olhares desses meninos
Há o silêncio que há no fogo
E o clarão das capitais
E eles dormirão nos ventos
Encobertos e atentos
Haverão de sufocar...
Os milhares de venenos
Que situam-se nas fontes
Nos olhares dos pequenos
Que veriam adamastor

Orquidea Negra

Atenção artilheiro
Três salvas de tiros de canhão
Em honra aos mortos da Ilha da Ilusão
Durante a última revolução do coração e da paixão
Apontar a estibordoÂ… Fogo!
Você é a orquídea negra
Que brotou da máquina selvagem
E o anjo do impossível
Plantou como nova paisagem
Você é a dor do dia a dia
Você é a dor da noite à noite
Você é a flor da agonia
A chibata, o chicote e o açoite
Lá fora ecoa a ventania
E os ventos arrastam vendavais
Do que foi, do que seria
Do que nunca volta jamais
Parece até a própria tragédia grega
Da mais profunda melancolia
Parece a bandeira negra
Da loucura e da pirataria
Atenção, artilheiroÂ…

Hino Nordestino

salto no escuro de meter medo nos olhos
de meter medo a quem medo nunca sentiu
tentar a sorte no rio de janeiro
são paulo, no mundo, aceito o desafio
é o destino que é de todo nordestino
que sai de casa e que dá asa ao pensamento
espaço abertro aberto dentro do seu proprio ser
cuidado tempo, que é pra não se atarapalhar
<refrão>
ô deixa chover, ô deixa molhar
ouve o que eu digo cantando esse xote
ô deixa chover, ô deixa molhar
não for castigo, cada pingo forte (2x)
salto no escuro de meter medo nos olhos
de meter medo a quem medo nunca sentiu
tentar a sorte no rio de janeiro
são paulo, no mundo, aceito o desafio
é o destino que é de todo nordestino
que sai de casa e que dá asa ao pensamento
espaço abertro aberto dentro do seu proprio ser
cuidado tempo, que é pra não se atarapalhar
<refrão>
é o destino que é de todo nordestino
que sai de casa e que dá asa ao pensamento
espaço abertro aberto dentro do seu proprio ser
cuidado tempo, que é pra não se atarapalhar
<refrão>
ô deixa chover

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O Sermão da Montanha - Parte 4

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Bem-Aventurados os Misericordiosos”

“Misericordioso é aquele que tem coração para os míseros; aquele que com­preende e ama os fracos, os ignorantes, os doentes, todos os necessitados de corpo, mente e alma, e procura aliviar-lhes os sofrimentos.

“O homem meramente profano é ruidosamente , o homem místico é silenciosamente solitário. Mas o homem plenamente crístico é dinamicamente solidário.

“Essa solidariedade dinâmica do homem cristi­ficado não exclui, mas inclui a solidão espiritual do místico. O homem crístico é, por dentro, unicamente de Deus, e, por fora, de todas as creaturas de Deus.

“Quanto mais o homem dá, na horizontal, tanto mais recebe, na vertical. Existe uma lei cósmica que produz infalívelmente o enriquecimento do homem que em si mantém, permanentemente, uma atitude doadora, que está sempre disposto a dar do que tem e a dar o que é, isto é, ajudar a seus semelhantes com os objetos que possui e com o amor do próprio sujeito que ele é. Não basta “fazer o bem” (dar objetos) — é necessário também “ser bom” (dar o sujeito).

“Pode alguém fazer o bem sem ser bom, porque esse ‘bem” é apenas um objeto — mas ninguém pode ser bom sem fazer o bem, porque esse “ser bom” é o próprio sujeito, que, como o próprio vocábulo diz, “subjaz” (jaz por debaixo) como causa a todos os efeitos, que “objazem” (jazem defronte ou de fora). Não são os efeitos que produzem a causa, mas é a causa que produz os efeitos; não são os objetos, o “fazer bem”, que produzem o sujeito, o “ser bom”, mas sim vice-versa, o “ser bom” produz o “fazer bem”.

“Por isso, os misericordiosos que Jesus proclama bem-aventurados não são apenas pessoas eticamente boas, fazedoras do bem — mas são pessoas misticamente perfeitas, experientes de Deus, e, por isto, essencialmente boas.

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“Esses homens essencialmente perfeitos pelo imediato contato com Deus são, também, existencialmente bons pela solidariedade com todas as creaturas de Deus. Quem viveu misticamente o Deus do mundo, vive eticamente com todo o mundo de Deus, porquanto a profunda vertical da mística produz necessariamente a vasta horizontal da ética — é esta a grandiosa matemática cósmica da Verdade Libertadora.

“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará.” Esses misericordiosos receberão misericórdia, não dos homens, mas de Deus. A misericórdia que eles fazem a seus semelhantes não é causa, mas condição para que recebam misericórdia de Deus, porque ninguém pode merecer causalmente uma dádiva divina; tudo que é espiritual e divino é es­sencialmente gratuito, é de graça, porque é graça; é, todavia, necessário que o homem crie dentro de si o clima propício para que essa dádiva gratuita lhe possa ser concedida; esse clima propício, ou essa receptividade, é que é a condição, que em hipótese alguma é causa.

Quem espera recompensa, pagamento, pelos benefícios que presta à humanidade é egoísta, mercenário, ainda que essa recompensa consista apenas no desejo de reconhecimento ou gratidão da parte de seus beneficiados. Esse desejo não deixa de ser egoísta e mercenário e tolhe ao homem a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”, tornando-o escravo e prisioneiro de uma prisão muito perigosa, porque sumamente sutil e, aparentemente, justificada, como é o desejo de gratidão. O beneficiado, é certo, tem a obrigação de ser grato, mas o benfeitor não tem o direito de esperar gratidão. Com esse desejo, por mais secreto e bem camuflado, ele inutilizaria a sua ação e tolheria a si mesmo a liberdade.

“O homem crístico está liberto de qualquer espírito mercenário; trabalha inteiramente de graça, nem espera resultado algum externo de seus trabalhos. Trabalha por amor à sua grande missão, pois sabe que é embaixador plenipotenciário de Deus aqui na terra e em outros mundos. E é por isso, que ele trabalha com o máximo de perfeição e alegria em tudo, tanto nas coisas grandes como nas coisas peque­nas. Nunca trabalha para ter público que o aplauda. Por isso, não o exaltam louvores, nem o deprimem censuras; é indiferente a vivas e a vaias, a aplausos e a apupos, a benquerenças e malquerenças, porque se libertou definitivamente de todas as escravidões do homem profano, do “homem velho”, e se revestiu da leve e luminosa vestimenta do “homem novo” liberto pela Verdade.

“Esse homem vive permanentemente na atmosfera serena e sorridente da “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”, cujo diploma crístico vem resumido nas seguintes palavras: “Quando tiverdes feito tudo o que devíeis fazer, dizei: “Somos servos inúteis, cumprimos apenas a nossa obrigação, nenhuma recompensa merecemos por isto”...

“São estes os misericordiosos que alcançarão misericórdia — esses bem-aventurados...”

Huberto Rohden

Para aqueles que queiram ler os textos integrais recomendamos o link: http://www.esnips.com/doc/6fda8dc4-a4e1-48a3-87ae-8085b9eb532a/Huberto%20Rohden%20%3E%20O%20Serm%E3o%20da%20Montanha%20-%20Huberto%20Rohden

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O Sermão da Montanha - Parte 3

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“Bem-Aventurados os Mansos...”

“O homem que encontrou o seu Eu divino é necessariamente manso.

“Todos os seres que não atingiram a consciência espiritual recorrem à violência para conseguirem os seus fins. Os irracionais só conhecem violência ma­terial. O homem, depois de intelectualizado, desco­briu outro tipo de violência muito mais eficiente, que é a violência mental... são certos argumentos analíticos de que a inteligência se serve para conseguir os seus fins próprios da personalidade do ego.

“Quando o homem descobre em si as potências di­vinas, desiste definitivamente de toda e qualquer espécie de violência física e mental. Não mais confia em máquinas e aparelhos materiais manobrados pela força do intelecto, nem recorre às energias do mundo astral para conseguir efeitos de magia mental a atuarem sobre o mundo visível.

“O homem auto-realizado descobriu a essência de si mesmo e de todas as coisas, essência essa que é imaterial, e por isso não mais o interessam as aparências periféricas, que os profanos consideram realidades.

“Por isto, não há para o homem manso de coração motivo algum para recorrer à fraqueza da violência brutal, quando ele possui a força da suavidade e benevolência espiritual.”

*

“O que, à primeira vista, causa estranheza nessa bem-aventurança é a promessa de que os mansos possuirão (ou herdarão) a “terra”... A humanidade imperfeita que agora habita esta terra com suas vibrações baixas e pesadas terá de passar por muitos estágios de evolu­ção, em outros mundos, outros planetas ou nos espaços intersiderais, e, após longos milênios de experiências e sofrimentos, voltará ela, purificada e com outras vibrações, a habitar esta terra, transforma­da em um habitáculo de seres puros. Esses homens puros serão “mansos”, isto é, não violentos; nada farão por meio de força bruta, tudo farão com força espiritual. O espírito da força será substituído pela força do espírito.

“Violenta non durante*, diziam os antigos pensadores romanos; as coisas violentas não duram — as coisas suaves têm duração garantida, embora a sua atuação inicial seja, quase sempre, lenta e quase imperceptível. Uma bomba atômica destrói uma cidade inteira em poucos segundos, ao passo que uma semente viva leva séculos inteiros para construir uma árvore no seio da floresta. Aqui, a força suave da vida — acolá a força brutal da morte.

“Amar incondicionalmente, é o caminho mais curto e rápido às alturas da compreensão integral e universal.”

Huberto Rohden

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Sermão da Montanha - Parte 2

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“Bem-Aventurados os Puros de Coração”

“Puro de coração é aquele que se libertou, não só dos objetos externos, mas, também, do sujeito interno, isto é, daquilo que ele idolatrava como sendo o seu sujeito, o seu eu, embora fosse apenas o seu pseudo-eu, o seu pequeno ego físico-mental.

“De maneira que ser puro de coração é ainda mais glorioso do que ser pobre pelo espírito; ser interiormente livre da obsessão do ego vivo é mais do que ser livre da escravidão da matéria morta.

“...Enquanto o pequeno eu não tiver em si suficiente segurança interna, necessita de buscar seguranças em fatores externos; mas a segurança interna torna supérflua as seguranças externas; o pequeno eu fez tantos ‘seguros de vida’ porque não possui segurança. Age sob o impulso da lei da compensação.

“...Ninguém pode ver claramente o Deus transcendente do universo de fora antes de ver nitidamente o Deus imanente do universo de dentro.

“Nas letras sacras — como também nos escritos de Mahatma Gandhi — “impureza” quer dizer egoísmo, e “pureza” significa o oposto, que é o amor universal a solidariedade cósmica.

“Enquanto o homem não ultrapassar as estreitas barreiras do seu ego personal, está com os olhos vendados, separados de Deus por uma camada impermeável à luz, que é a impureza do coração. Por mais que um ególatra ouça falar em Deus, nada compreende, porque com­preender supõe ser. Ninguém pode compreender senão aquilo que ele vive ou é no seu íntimo ser. Entender é um ato mental, mas compreender é uma atitude vital; entender mentalmente é uma função parcial, unilateral do nosso ego humano — compreender é uma vivência total, unilateral, do nosso Eu divino. Quem não é divino não pode saber o que é Deus. O egoísta é antidivino, e por isso não pode compreender o que é divino, não pode ver a Deus, antes de adquirir “pureza de coração”.

“Ver a Deus” “ver o reino de Deus”, são ex­pressões típicas que Jesus usa para designar a experiência direta da Realidade eterna, o contato íntimo com ela. Outros crêem em Deus — mas só o puro de coração vê a Deus. O simples crer, embora necessário como estágio preliminar, não é suficiente para a definitiva redenção do homem, que consiste na vidência ou visão de Deus."

*

“Se é difícil a “pobreza pelo espírito”, muito mais difícil é a “pureza do coração”. O desapego dos bens externos é o abandono de algo que não fez, nem jamais poderá fazer parte integrante do homem algo que nunca foi nem pode ser realmente “seu” - ao passo que o ego personal faz parte integrante do homem, é “seu”, embora não seja ele mesmo; e por isso a renúncia à sua personalidade físico-mental em prol da sua individualidade espiritual é, incom­paravelmente, mais difícil do que a renúncia à cobiça dos bens externos. Parece ser uma morte para o homem que ainda não descobriu o seu eterno Eu. Mas essa morte é indispensável para a ressurreição. A coragem de arriscar ou não arriscar esse salto mortal do ego humano para o Eu divino é que divide a humanidade em dois campos: em profanos e iniciados, nos de fora e nos de dentro, em cegos e videntes, em inexperientes e experientes, em insipi­entes e em sapientes. É necessário que o homem sofra tudo isso para, assim, entrar em sua glória..."

*

“O despertar dessa nova vidência, que existe, dormente, em cada um de nós, requer exercício in­tenso, assíduo e prolongado, porque o homem tem de superar barreiras já estabilizadas há séculos e milênios...

“Esse exercício diário é vital consiste, principal­mente, em uma permanente atitude interna de querer servir, servir espontânea e gratuitamente a todos. Esse clima de querer servir, espontânea e gratuitamente, remove os obstáculos que existem entre nós e o Todo (Deus), porque diminui gradualmente o egoís­mo unilateral e exclusivista e aumenta a solidariedade inclusivista, que uns chamam altruísmo, outros amor, outros ainda benevolência universal. Com essas práticas diárias, a muralha opaca que se ergue entre nós e Deus se torna cada vez mais transparente, permitindo-nos a visão da grande Luz.”

Huberto Rohden

Para aqueles que queiram ler os textos integrais recomendamos o link: http://www.esnips.com/doc/6fda8dc4-a4e1-48a3-87ae-8085b9eb532a/Huberto%20Rohden%20%3E%20O%20Serm%E3o%20da%20Montanha%20-%20Huberto%20Rohden

domingo, 19 de abril de 2009

Poetas Brasileiros III - Milton Nascimento

Milton Nascimento nasceu em 26/10/1942, no Rio de Janeiro, criou-se em Três Pontas, Minas Gerais; e aos treze anos já cantava em festas e bailes da cidade.

Ficou conhecido pelas músicas Travessia e Canção de Estudante, principalmente, mas tem vasta obra poética que encanta quantos a lerem ou cantarem.

Aqui a lembrança de algumas preciosidades deste grande poeta e nosso apelo a que volte aos palcos.

milton-nascimento

San Vicente

Milton Nascimento / Fernando Brant

Coração americano
Acordei de um sonho estranho
Um gosto, vidro e corte
Um sabor de chocolate
No corpo e na cidade
Um sabor de vida e morte
Coração americano
Um sabor de vidro e corte
A espera na fila imensa
E o corpo negro se esqueceu
Estava em San Vicente
A cidade e suas luzes
Estava em San Vicente
As mulheres e os homens
Coração americano
Um sabor de vidro e corte
Unhnhnhnh...
As horas não se contavam
E o que era negro anoiteceu
Enquanto se esperava
Eu estava em San Vicente
Enquanto acontecia
Eu estava em San Vicente
Coração americano
Um sabor de vidro e corte
Lararararairai...

miltonnascimento

Teia de Renda

Túlio Mourão e Milton Nascimento

De mil canteiros de ilusões
Brotam desejos que já vivi
Já conversados, já tão sentidos
Campos de força, tempos atrás
Em meu destino o que restou
Marca profunda de muito amor
Tão procurada, iluminda
Essa loucura que me abraçou
O que se deu, que se trocou
Quanta verdade a se entrelaçar
Que se sofreu, o que se andou
Quase ninguém nos acompanhou
O que me cerca, onde hoje estou
Numa saudade sem tempo e fim
Acomodada, gente parada
Teia de renda que me cercou
Eu não aceito o que se faz
Negar a luz fingindo que é paz
A vida é hoje, o sol é sempre
Se já conheço eu quero é mais
O que se andar, o que crescer
Se já conheço eu quero é mais
Eu não aceito o que se faz
Negar a luz fingindo que é paz
A vida é hoje, o sol é sempre
Se já conheço eu quero é mais
O que se andar, o que crescer
Se já conheço eu quero é mais

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Certas Canções

Tunai e Milton Nascimento

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz?
Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor
Contos da água e do fogo
Cacos de vidas no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração pro cantor
Vida e mais vida ou ferida
Chuva, outono, ou mar
Carvão e giz, abrigo
Gesto molhado no olhar
Calor que invade, arde, queima, encoraja
Amor que invade, arde, carece de cantar

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Pai Grande

Milton Nascimento

Meu pai grande
Inda me lembro
E que saudade de você
Dizendo: eu já criei seu pai
Hoje vou criar você
Inda tenho muita vida pra viver
Meu pai grande
Quisera eu ter graça pra contar
A história dos guerreiros
Trazidos lá do longe
Trazidos lá do longe
Sem sua paz
De minha saudade sem você cantar
De onde eu vim
É bom lembrar
Todo homem de verdade
Era forte e sem maldade
O dia vai
O dia vem
Todo filho seu
Seguindo os passos
E um cantinho pra morrer
Pra onde eu vim
Não vou chorar
Já não quero ir mais embora
Minha gente é essa agora
Se estou aqui
Eu trouxe de lá
Um amor tão longe de mentiras
Quer a quem quiser me amar

sábado, 18 de abril de 2009

O Sermão da Montanha - Parte 1

O Sermão da Montanha - Carl Bloch
Os textos do Sermão da Montanha, sempre tão atuais e ao mesmo tempo anos-luz a nossa frente, andam por demais esquecidos.
Resumem a filosofia de Jesus deixada, tão amorosamente, como herança para nós, que muito pouco temos refletido em seus ensinamentos, para que pudéssemos trilhar caminhos menos pedregosos.
Reestudado e reinterpretado por um filósofo brasileiro,
Huberto Rohden, é leitura obrigatória.
Nestas postagens buscaremos rever de forma resumida a interpretação de Rohden, para que, quem sabe, ressoe em nossas almas já cansadas de errar por tantos séculos.
Esperamos que seja uma leitura de reflexão para todos, e desde já agradecemos as visitas e comentários.



“Bem-Aventurados os Pobres Pelo Espírito!”
“Poucas palavras do Evangelho sofreram, através dos séculos, tão grande adulteração e ludíbrio tamanho como estas. Escritores e oradores de fama mundial, e até ministros do Evangelho, aderem à blasfêmia de que o Nazareno tenha proclamado bem-aventurados e cidadãos do reino dos céus os “pobres de espírito”, isto é, os apoucados de inteligência, os idiotas e imbecis, os mentalmente medíocres.
"Se assim fosse, o próprio Nazareno, riquíssimo de espírito, não faria parte dos bem-aventurados e possuidores do reino dos céus.
“Jesus proclama bem-aventurados, todos aqueles que são pobres, ou desapegados, dos bens terrenos...
"O verdadeiro abandono decorre da libertação interna. A questão é possuir sem ser possuido, pois todo possuído é escravo.
“...Ser rico ou ser pobre são coisas que nos acontecem, de fora — mas a arte de saber ser rico ou de ser pobre, é algo que nós produzimos, de dentro. O que nos faz bons ou maus não é aquilo que nos acontece, mas sim o que nós mesmos fazemos e somos.
“Ser rico não é pecado — ser pobre não é virtude. Virtude ou pecado é saber ou não saber ser rico ou pobre.
“...Bem-aventurados os pobres pelo espírito, os que, pela força do espírito, se emanciparam da escravidão da matéria. Deles é o reino dos céus, que está dentro do homem e esse leva consigo o reino da sua felicidade aonde quer que vá...”

Huberto Rohden






quinta-feira, 16 de abril de 2009

Poetas Brasileiros II - Taiguara

Taiguara Chalar da Silva ou simplesmente Taiguara, como ficou conhecido, foi um grande poeta brasileiro nascido no Uruguai (9/10/1945), faleceu vitima de câncer (14/02/1996).
Filho do maestro Ubirajara Silva, abandonou a faculdade de direito para dedicar-se à música. Fez sucesso nas décadas de 60 e 70, sendo autor de vários clássicos da MPB.
Foi atuante durante a Ditadura Militar no Brasil e um dos compositores mais censurados (cerca de 100 canções) na época.
Exilou-se na Inglaterra em 1973 e voltou ao Brasil em 1975, gravando o Imyra, Tayra, Ipy com Hermeto Paschoal e orquestra, tendo o espetáculo do show cancelado e as cópias do disco recolhidas pela censura em poucos dias. Exilou-se então na África e Europa por muitos anos.
Só voltou ao Brasil em meados dos anos 80, porém não logrou mais sucesso.
Aqui nossa pequena homenagem, relembrando algumas de suas composições.


Mais-Valias
Mais valia eu ter-te amado
Que ter-te explorado tanto
Mais valia o meu passado a teu lado
Do que mais luxo e mais encanto
Fiz do meu lar uma empresa
Fiz brilhar meu colarinho
E hoje o que resta é tristeza
E a certeza de que eu não quero
Estar sozinho
E o que foi festa é despesa
Na mesa em que mais valia
O teu carinho
Pr'a que é que eu quis mais dinheiro?
Se quanto mais possuia
Mais me via interesseiro
E, no meu cativeiro,
Mais eu te perdia...
Fiz Capital, te explorando
Fiz o mal, nos separando
E hoje aqui estou derrotado,
Um ladrão desalmado
Que acabou chorando
E hoje aqui estou fracassado.
Um patrão desarmado
Que acabou pagando.


Teu sonho não acabou
Hoje a minha pele já não tem cor
Vivo a minha vida seja onde for
Hoje entrei na dança e não vou sair
Vem que eu sou criança não sei fingir
Eu preciso, eu preciso de você
Ah! Eu preciso, eu preciso, eu preciso muito de você
Lá onde eu estive o sonho acabou
Cá onde eu te reencontro só começou
Lá colhi uma estrela pra te trazer
Bebe o brilho dela até entender
Que eu preciso...
Só feche o seu livro quem já aprendeu
Só peça outro amor quem já deu o seu
Quem não soube a sombra, não sabe a luz
Vem não perde o amor de quem te conduz
Eu preciso...
Nós precisamos, precisamos sim
Você de mim, eu de você.



Voz do Leste

Sou Voz Operária do Tatuapé
Canto enquanto enfrento o batente co'a mão
Trabalho no ritmo desse Chamamé
Meu pouco Salário faz minha ilusão
Sou voz operária do Tatuapé
Vivo como posso a me deixa o patrão
E enquanto respira dessa chaminé
Meu povo se vira e não vê solução
No teatro da vergonha
aonde a vedade não se diz
Tem quem representa a massa,
quem ri da desgraça
E quem banca o infeliz
Tem até burguês que sonha
que entra em cena e engana a atriz
Tem quem sustenta a trapaça
E depois que fracassa,
Amordaça o país.
Já meu drama é o da cegonha...
quase morre o meu guri...
Sobra pr'o Leste a fumaça e a peste ameaça
O ar do Piqueri
Pior que a matança medonha é o desemprego pra engolir...
Seja no peito ou na raça, esse teatro devasso
Alguém tem que proibir...
Seja no palco ou na praça
Essas peças sem graça
vão ter que sair.
(sair de cartaz...)
Sou voz operária...

domingo, 5 de abril de 2009

Poetas Brasileiros I - Geraldo Vandré

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Grandes poetas fazem parte do nosso cancioneiro, e estão tão esquecidos, mas vale lembrá-los.

Um destes é Geraldo Vandré, conhecido pela suas composições, "Disparada" (1966) e "Prá não dizer que não falei de flores" (1968), apresentadas no Festival de Música Popular Brasileira na antiga Tv Record; tem outras poesias belíssimas com a força, o amor e o lirismo do homem nordestino e do poeta que deu "a cara a bater" para a Ditadura Militar.

Geraldo Pedrosa de Araújo Dias é paraibano de João Pessoa (1935), veio ao Rio de Janeiro em 1951 para cursar a faculdade de direito e foi militante estudantil da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Em 1968 foi obrigado a exilar-se indo para o Chile e França, voltando ao Brasil em 1973. Hoje vive em São Paulo e ainda compõe. (Wikipédia)

Réquiem para Matraga

(Geraldo Vandré)

Vim aqui só prá dizer

Ninguém há de me calar

Se alguém tem que morrer

Que seja prá melhorar

Tanta vida prá viver

Tanta vida a se acabar

Com tanto prá se fazer

Com tanto prá se salvar

Você que não me entendeu

Não perde por esperar

A Procissão - Marisa c. Eberhardt

A Procissão - Marisa c. Eberhardt

Canção Nordestina

(Geraldo Vandré e Luiz Roberto)

Que sol quente, que tristeza

Que foi feito da beleza

Tão bonita de se olhar

Que é de Deus e a natureza

Só esqueceram com certeza

Da gente desse lugar

Olha o padre com a vela na mão

Tá chamando prá rezar

Menino de pé no chão

Já não sabe nem chorar

Reza uma reza comprida

Prá ver se o céu saberá

Mas a chuva não vem não

E essa dor no coração

Ai, quando é que vai se acabar

Quando é que vai se acabar

Fica Mal com Deus

(Geraldo Vandré)

Fica mal com Deus

Quem não sabe dar

Fica mal comigo

quem não sabe amar

Pelo meu caminho vou

Vou como quem vai chegar

Quem quiser comigo ir

Tem que vir do amor

Tem que ter prá dar

Vida que não tem valor

Homem que não sabe dar

Deus que se descuide dele

O jeito a gente ajeita

Dele se acabar

Fica mal com Deus

Quem não sabe dar

Fica mal comigo

quem não sabe amar

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Samba do Crioulo Doido

Carnaval também é época de recordar, e gostaria de lembrar aqui um dos sambas mais interessantes de que me lembro e que há muitos carnavais não escuto.
Cantado, inicialmente, pelos inconfundíveis Demônios da Garoa, depois regravado por outros grupos, e escrito, pasmem, por Stanislaw Ponte Preta, é ele mesmo o velho Sérgio Porto.
Relembrem, vale a pena.
Fico imaginando o que o Sérgio Porto escreveria hoje, se aqui estivesse...

Samba do Crioulo Doido
Composição: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)
Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a Princesa Leopoldina
Arresolveu se casá
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes
Lá iá lá iá lá ia
O bode que deu vou te contar
Lá iá lá iá lá iá
O bode que deu vou te contar
Joaquim José
Que também é Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
E foi proclamada a escravidão
Assim se conta essa história
Que é dos dois a maior glória
Da. Leopoldina virou trem
E D. Pedro é uma estação também
O, ô , ô, ô, ô, ô
O trem tá atrasado ou já passou

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Reflexão de Charles Chaplin I

“Durante a nossa vida:
Conhecemos pessoas que vem e que ficam, outras que, vem e passam.
Existem aquelas que, vem, ficam e depois de algum tempo se vão.
Mas existem aquelas que vem e se vão com uma enorme vontade de ficar...”

"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha,
porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.
Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova
de que as pessoas não se encontram por acaso."

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Reflexões - Saint-Exupery II

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"Tu não podes atribuir nada a ti próprio. Não és cofre nenhum. És o nó da diversidade". (Cidadela - capítulo CLXX)

Aqui estamos, nesta Terra maravilhosa, em que o Criador nos empresta recursos para nossa evolução.

Tudo que está sobre o planeta, tudo o que conseguimos construir de material, são apenas os meios que temos à mão para enriquecer nossa alma imortal.

Não nos iludamos, pois nada poderemos levar daqui, que não sejam as experiências e os ensinamentos que destas absorvemos.

Quando assim nos comportamos, ascendemos em espirais de Luz ao Universo infinito, unimo-nos a este Criador que também evolui através de nós...

Perséfone Hades (Bia Unruh)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Reflexões - Saint-Exupery I

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"Se julgas que a própria árvore vive para a árvore que ela é... é sinal de que nem sequer vislumbras o que é alegria. A árvore é fonte de sementes aladas e vai-se transformando e alindando de geração em geração. Ela caminha, não a tua maneira, mas como um incêndio dirigido pelos ventos. Se plantares um cedro no alto de uma montanha, verás a floresta deambular lentamente ao longo dos séculos. Se julgasse o que é, que é que a árvore se julgaria? Julgar-se-ia raízes, tronco e folhagem. Julgaria servir-se a si própria ao plantar suas raízes, ela que não passa de via e passagem. A terra através dela casa-se com o mel do sol, desabrocha em botões, abre-se em flores, compõe sementes, e a semente leva consigo a vida, como um fogo preparado mas invisível ainda". (Cidadela, capítulo CXCII)

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Assim, nós humanos, se em harmonia com o Universo que nos criou, somos como esta árvore, embelezamo-nos a cada geração.

Se cuidamos para que tudo seja melhor para nossos filhos, estamos certamente melhorando a nós mesmos e a tudo a nossa volta,  para a próxima estadia na vida terrena.

Não nos julguemos o que somos nesta vida curta, que por hora passamos, há muito mais de onde viemos, assim o Criador nos deu a chance de crescermos a cada novo dia e a cada nova vida.

Cada nova experiência prepara-nos com este fogo da vida, e vamos em direção à perfeição, forjamos nossa alma imortal na busca constante no aqui-agora, mas não só nele, já que nosso espírito passa por várias vidas, e a cada nova experiência estamos um passo mais próximos de nosso Criador.

Perséfone Hades (Bia Unruh)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Para Viver um Grande Amor

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Vinícius de Moraes

Meu poeta favorito, cantou e encantou a mulher como mais ninguém soube fazer.

A minha mais linda paixão de adolescente, quisera  meu querido Vinícius que tivesses cantado seus versos para mim...

Para viver um grande amor

Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso – para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... – não nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro – seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada – para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o “velho amigo”, que porque é só vos querer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado para chatear o grande amor.

Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade – para viver um grande amor. Pois quem trai o seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, Il faut ale de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô – para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito – peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É preciso ter em vista um crédito de rosas no florista – muito mais, muito mais que na modista! – para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas; ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs – comidinhas para de pois do amor. E o que há de melhor do que ir prá cozinha e preparar com amor uma galinha, com uma rica e gostosa farofinha, para viver um grande amor!

Para viver um grande amor é muito, muito importanteviver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto – prá não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer baixo seu, a amada sente – e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortes sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia – para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que – que não quer nada com o amor.

Mas tudo isto não adianta nada, se nesta selva obscura e desvairada não se souber achar a bem-amada – para viver um grande amor.