sábado, 4 de abril de 2009

Memórias IV

 crianças1

Todo momento para uma criança é mágico.

Minha irmã e eu vivíamos esta magia, naquele quintal.

Era uma área enorme, para nós, em frente da nossa casa. Há mais ou menos dez passos da porta de entrada ficava uma escada, não muito íngreme, com 7 ou 8 degraus, larga. Lá era nosso palco. Ali ensaiávamos nossas vozes infantis, com algum pedaço de madeira nas mãos ou um cabo de vassoura, à moda dos microfones da época. Estávamos na década de sessenta e as músicas eram as do Festival da Canção, que acompanhávamos na extinta TV Record, músicas do Roberto e Erasmo Carlos e da Vanderléia, ídolos da época.

Cantávamos a todo pulmão e esquecíamos do mundo. Éramos estrelas. Apresentávamos uma à outra como num programa de TV. E era o máximo, sempre que assim fazíamos, queríamos ser artistas, e ali naquele momento éramos.

A vizinha do lado direito, Dona Geo, era uma senhorinha a qual chamávamos de Vó Geo, vinha muitas vezes à cerca para nos ver e por vezes conversava conosco.

Nosso público era o cão vira-latas malhado de preto e branco que adorávamos, e muitas vezes teve de agüentar meu peso quando me fazia de  amazona. E nosso gato, um bichano castrado, grande e preguiçoso que dormia na minha cadeira preferida. Era maravilhoso viver aquelas tardes quentes e ensolaradas apenas a cantar.

jovem guarda

“ E aí vem, a minha amiguinha, Vanderléia.” Minha irmã entrava no palco e começava a cantar: “Por favor, pare agora, senhor juiz”...

Quando nos cansávamos de soltar a voz, íamos para o balanço, sob o abacateiro, lindo, maravilhoso, alto, uma árvore plantada por nós, que todo ano se carregava de frutas grandes e redondas, o melhor abacate que já comi. Eram tantas frutas que as distribuíamos para os vizinhos, cada abacate chegava a pesar 2kg e tinham uma polpa tenra e doce, que parecia manteiga.

Eu gostava quando mamãe cortava-os ao meio, retirava o caroço, cortava a polpa ainda dentro da casca e colocava açúcar e limão. Eu me fartava de comer aquela polpa agridoce deliciosa e macia, ainda hoje sou capaz de sentir o sabor e o aroma que tinha.

Era neste abacateiro que ficava o balanço, onde podíamos balançar alto como se fôssemos voar, sentindo o vento em nossos cabelos e rosto; às vezes eu virava bastante para trás, só para ver o mundo de pernas para o ar, e aquele céu azul por entre os galhos da árvore. Podíamos ficar apenas sentadas ali, por horas, chegando a cochilar no calor da tarde, abrir os olhos e ver o mundo tão claro, e ir para dentro de casa e enxergar tudo escuro, era engraçado e inexplicável, mas não nos importávamos com explicações deste tipo.

O Balanço - de Jean Honoré Fragonard

O Balanço - de Jean Honoré Fragonard

O balanço também era local para conversarmos com a Dona Geo, ela fica falando da sua terra, Alagoas, e da época em que era criança, às vezes eu achava que ela sentia saudade do balanço dela, lá na sua casa de criança...

Perséfone Hades

Publicado em: http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/pagina_autor.php?cdEscritor=1077

2 comentários:

  1. Os tempos vae embora, nois ficamos con as doces lembranças nunca esquecidas.Desses anhos da inocencia, onde ainda nossos corpos tinhan a pureza intacta.

    Vocè me troze saudades, aquelhas maravillosas burbulhas nu ar que nunca explodian, voando pra o cel...

    Goste de mais desse relato.

    Bejos,ainda puros

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  2. Ah! e você me lembrou mais uma... as bolhas de sabão que fazíamos!

    Obrigada, amiga.

    bjs
    Perséfone

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Obrigada por sua visita, é muito estimulante que meus textos estejam sendo apreciados pelas pessoas, acho que esta é a realização de todo autor.
Beijos no coração de todos e LUZ sempre...
Perséfone