"A um passo das estrelas, o dia da morte do homem?
Enquanto milhões de seres humanos carecem de condições de vida e o nosso habitat está a beira do colapso total, o inabalável homem norte-americano gasta milhões de dólares com o espaço sideral, sem olhar a sua volta, sem querer saber se milhares de seres humanos morrem de fome, ou se seu planeta sobreviverá à exploração inadequada e contínua.
O que busca este homem? Avança na ciência e tecnologia e se esquece de aplicar este conhecimento para explorar de forma consciente o potencial de sua própria casa. A Terra é rica e fértil, dá-nos tudo de que necessitamos sem reclamar, e ainda é uma desconhecida para nós, por que necessitamos procurar qualquer outra coisa no Universo?
É chegada a hora de agir contra determinados condicionamentos: limpando nossa casa, arrumando-a e ajudando os que se encontram em piores condições, somos todos irmãos filhos da mesma Terra.
O homem se encontra massificado("hoje está globalizado") e massacrado, embora tão evoluído tecnologicamente, é imaturo para equacionar e resolver seus problemas do aqui e agora.
Ficamos com milhares de soluções bailando a nossa volta, o Terceiro Mundo morrendo à mingua e os países ditos desenvolvidos buscando futuros impérios no espaço para serem escravizados..."
Escrevi este pequeno texto revoltado, nos anos 70, mais precisamente em 1975. Era a época da expansão espacial.
Eu tinha dezoito anos, e estava fazendo cursinho para o vestibular e escrevia, pois não podia falar, afinal ainda estávamos na repressão e vigorava o AI5, tudo que vivíamos doía tremendamente. A adolescência em conflito e o mundo de ponta cabeça que me perturbava com seus gritos.
Era o ano internacional da mulher, muito embora nós ainda hoje (e já se foram 33 anos) sejamos discriminadas em muitos pontos do planeta. Países como Nova Guiné, Moçambique e Angola tornaram-se independentes de seus colonizadores, mas não independentes da pobreza e exploração pelos mais ricos, que se mantém até os nossos dias...Cenas de crianças morrendo de fome em vários dos países subdesenvolvidos eram comuns, as fotos dos mortos no Vietnã arrasavam-nos, o homem já tinha ido à Lua, mas era incapaz de contornar seus problemas domésticos.Acabava a guerra do Vietnan, depois de 16 longos anos e milhões de mortes e centenas mortos-vivos que voltaram às suas origens, mas nunca esqueceram o que passaram lá. Os EUA saíram derrotados, porém iniciaram novas tecnologias de guerra, com o uso de armas químicas como o agente laranja e o napalm.No Brasil, era presidente o General Ernesto Geisel, e começava a queda do regime militar, após a prisão e assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do DOI-CODI em São Paulo. A telenovela Roque Santeiro de Dias Gomes, foi proibida de ir ao ar, apesar de já ter passado pela censura da ditadura militar.
Nascia Angelina Jolie (atriz americana), Sean Lennon(filho de John Lennon e Yoko Ono), Ana Paula Arósio, Rodrigo Santoro e Dalton Mello(atores barsileiros).
Morria Haile Selassie (imperador da Etiópia, admirado pelos adeptos da cultura rastafári); Francisco Franco (ditador espanhol); Érico Veríssimo (escritor brasileiro); Plínio Salgado (político e jornalista brasileiro, fundador da Ação Integralista Brasileira) e Dante Pazzanese (cardiologista brasileiro).
Foi lançado o primeiro computador doméstico. O movimento hippie estava a toda no Brasil, embora me parecesse meio alienado, mais preocupado com os psicodelismos, procurando não estar muito ligado aos problemas políticos da época, exceto por uns poucos. O medo era uma constante, então dirigíamos nossas revoltas para o mundo exterior.
Como desde há muito, os EUA eram o foco, pois a sua política intervencionista mostrava garras afiadas e crescia silenciosa, nos países do chamado Terceiro Mundo, até desabrochar em novas guerras; que para mim tinham como única finalidade fazer mais e mais dinheiro, para um país que não conhecia como não conhece hoje, os seus limites... John Lennon tinha trinta e poucos anos e depois de ter cantado a paz e ter-se tornado um ícone dela para a juventude da época, recebe seu filho Sean e torna-se recluso por 5 anos, só reaparecendo em 1980, e quando se reintegrava à carreira foi covardemente morto por um maluco. Assim meus ídolos e esperanças começaram a desaparecer.
2008
Já se foram mais de trinta anos e nada mudou...
Hoje não temos o Vietnã, mas temos o Oriente Médio, as armas químicas são o medo do momento. A guerra hoje ocorre on line e em tempo real, você não precisa ir ao cinema para ver cenas de pessoas mutiladas ou mortas por bombas.
Nossos irmãos em vários locais do mundo continuam morrendo de fome, porém o dinheiro pelas guerras ainda vem fácil e continua a ciclar em prol das armas e guerras. As drogas hoje são muito mais comuns, e pasmem aceitas em alguns locais do mundo, além de manter o dinheiro da violência crescendo.
O homem parou de ir ao espaço, e tornou-se exímio em destruir a própria casa, há poluição de todos os tipos, várias doenças apareceram ou reapareceram nos notificando que precisamos mudar, mas a destruição continua. A Mãe Terra reclama, ocorrem transtornos ecológicos em todo o planeta; os furacões, terremotos e maremotos tornaram-se piores, apesar de sua predição científica ser bem precisa, a destruição tem sido maior devido aos grandes conglomerados populacionais. Temos mares revoltados por terremotos de quando em quando destruindo países inteiros. O governo dos EUA continuam suas intervenções, piorando muito a qualidade de vida daqueles que diz proteger. O desrespeito continua sendo sua marca registrada, milhões de dólares continuam sendo gastos em coisas desnecessárias e até lesivas para o planeta.
O Terceiro Mundo hoje é chamado de “Países em Desenvolvimento”, uma forma de manipular as palavras para que o homem não perceba que o conteúdo é o mesmo, pois continuam sendo vistos como inferiores pelos ditos desenvolvidos.
Até quando este nosso belo planeta agüentará a desfaçatez deste homem que é a única espécie capaz destruir tudo a sua volta e o próprio irmão? Talvez por isso mesmo Deus tenha nos vetado(pelo menos em parte) a exploração do espaço...
Até quando o homem vai ignorar a realidade: somos todos irmãos no mesmo barco.Pensei ter começado a perder minhas esperanças quando meus ídolos começaram a desaparecer, porém me descubro pensando que ainda dá tempo de abraçar o planeta e cada ser sobre ele, e comungar com o divino dentro de nós mesmos, que ainda dá tempo de nos recuperarmos, que muitos pensam como eu e oram todos os dias para um mundo melhor.Escrito por Perséfone Hades(Bia Unruh)
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