quinta-feira, 16 de abril de 2009

Poetas Brasileiros II - Taiguara

Taiguara Chalar da Silva ou simplesmente Taiguara, como ficou conhecido, foi um grande poeta brasileiro nascido no Uruguai (9/10/1945), faleceu vitima de câncer (14/02/1996).
Filho do maestro Ubirajara Silva, abandonou a faculdade de direito para dedicar-se à música. Fez sucesso nas décadas de 60 e 70, sendo autor de vários clássicos da MPB.
Foi atuante durante a Ditadura Militar no Brasil e um dos compositores mais censurados (cerca de 100 canções) na época.
Exilou-se na Inglaterra em 1973 e voltou ao Brasil em 1975, gravando o Imyra, Tayra, Ipy com Hermeto Paschoal e orquestra, tendo o espetáculo do show cancelado e as cópias do disco recolhidas pela censura em poucos dias. Exilou-se então na África e Europa por muitos anos.
Só voltou ao Brasil em meados dos anos 80, porém não logrou mais sucesso.
Aqui nossa pequena homenagem, relembrando algumas de suas composições.


Mais-Valias
Mais valia eu ter-te amado
Que ter-te explorado tanto
Mais valia o meu passado a teu lado
Do que mais luxo e mais encanto
Fiz do meu lar uma empresa
Fiz brilhar meu colarinho
E hoje o que resta é tristeza
E a certeza de que eu não quero
Estar sozinho
E o que foi festa é despesa
Na mesa em que mais valia
O teu carinho
Pr'a que é que eu quis mais dinheiro?
Se quanto mais possuia
Mais me via interesseiro
E, no meu cativeiro,
Mais eu te perdia...
Fiz Capital, te explorando
Fiz o mal, nos separando
E hoje aqui estou derrotado,
Um ladrão desalmado
Que acabou chorando
E hoje aqui estou fracassado.
Um patrão desarmado
Que acabou pagando.


Teu sonho não acabou
Hoje a minha pele já não tem cor
Vivo a minha vida seja onde for
Hoje entrei na dança e não vou sair
Vem que eu sou criança não sei fingir
Eu preciso, eu preciso de você
Ah! Eu preciso, eu preciso, eu preciso muito de você
Lá onde eu estive o sonho acabou
Cá onde eu te reencontro só começou
Lá colhi uma estrela pra te trazer
Bebe o brilho dela até entender
Que eu preciso...
Só feche o seu livro quem já aprendeu
Só peça outro amor quem já deu o seu
Quem não soube a sombra, não sabe a luz
Vem não perde o amor de quem te conduz
Eu preciso...
Nós precisamos, precisamos sim
Você de mim, eu de você.



Voz do Leste

Sou Voz Operária do Tatuapé
Canto enquanto enfrento o batente co'a mão
Trabalho no ritmo desse Chamamé
Meu pouco Salário faz minha ilusão
Sou voz operária do Tatuapé
Vivo como posso a me deixa o patrão
E enquanto respira dessa chaminé
Meu povo se vira e não vê solução
No teatro da vergonha
aonde a vedade não se diz
Tem quem representa a massa,
quem ri da desgraça
E quem banca o infeliz
Tem até burguês que sonha
que entra em cena e engana a atriz
Tem quem sustenta a trapaça
E depois que fracassa,
Amordaça o país.
Já meu drama é o da cegonha...
quase morre o meu guri...
Sobra pr'o Leste a fumaça e a peste ameaça
O ar do Piqueri
Pior que a matança medonha é o desemprego pra engolir...
Seja no peito ou na raça, esse teatro devasso
Alguém tem que proibir...
Seja no palco ou na praça
Essas peças sem graça
vão ter que sair.
(sair de cartaz...)
Sou voz operária...

3 comentários:

  1. saudades daqui.
    Taiguara, como passa rápido o tempo.
    Um belo final de semana pra vc.
    Maurizio

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  2. É, Thiago, a nossa História deve ser contada e recontada sob todos os ângulos, para que nunca nos esqueçamos de pessoas que vieram fazer a diferença, embora ao longo do tempo, par os mais jovens, fiquem esquecidas...

    Meu querido Maurizio,
    "o tempo passa e atravessa as avenidas
    E o fruto cresce, pesa e enverga o velho pé
    E o vento forte quebra as telhas e vidraças
    E o livro sábio deixa em branco o que não é...",
    mas aqueles que lá passaram nunca se esquecerão.

    Bjs, aos amigos
    Perséfone

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Obrigada por sua visita, é muito estimulante que meus textos estejam sendo apreciados pelas pessoas, acho que esta é a realização de todo autor.
Beijos no coração de todos e LUZ sempre...
Perséfone