segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Sermão da Montanha - Parte 8

“Bem-Aventurados os que Sofrem Perseguição por Causa da Justiça”

“Justiça” significa a atitude justa e reta do homem para com Deus. O homem “justo”, nos livros sacros, é o homem santo, o homem crístico, o homem que realizou em alto grau o seu Eu divino pela experiência mística manifestada na ética. O homem “justo” é o homem que se guia, invariavelmente, pelos dois grandes mandamentos, o amor de Deus e a caridade do próximo.

“Mas, será possível que alguém sofra perseguição por causa dessa justiça, por causa da sua santidade?

“O Evangelho de Jesus está repleto de afirmações dessa natureza, e a experiência multissecular o con­firma. “Por causa do meu nome sereis odiados de todos, e chegará a hora em que todo aquele que vos matar julgará prestar um serviço a Deus. “Arrastar-­vos-ão perante reis e governadores e sinagogas; mas não vos perturbeis! Porque o servo não está acima de seu senhor; se a mim perseguiram também vos hão de perseguir a vós. “Os inimigos do homem são os seus companheiros de casa.”

“Estamos habituados a pensar e a dizer que esses perseguidores dos justos são homens maus, perversos, de má-fé; e, de fato, assim acontece muitas vezes. Entretanto, as mais cruéis perseguições que a história humana conhece foram perpetradas por homens sinceros e subjetivamente bons, em nome da verdade e do bem, em nome de Deus e do Cristo. Sobretudo as igrejas e sociedades religiosas organi­zadas têm empreendido, e empreendem ainda, cruzadas e “guerras santas”, trucidando infiéis, queimando hereges, torturando homens de elevada espirituali­dade, excomungando como apóstatas e perversos muitos dos homens mais puros e santos que o mundo conhece. A maior parte desses perseguidores não tem má intenção nem consciência pecadora; agem por um sentimento de dever.

“Há duas razões fundamentais por que o homem justo é perseguido por outros homens individuais ou por sociedades humanas.

“1 — Um indivíduo persegue outro indivíduo, não só porque este seja mau, mas, também, pelo fato de ser bom.

“Por quê?

“Porque o homem justo aparece como elemento hostil a outro homem menos justo. A simples presença de um homem mais santo do que eu é, para mim, uma declaração de guerra, ou, pelo menos, uma permanente ofensa. O homem espiritual, pelo simples fato de existir, diz silenciosamente a outros: “Vós devíeis ser como eu, mas não sois, e isto é culpa vossa”. Nenhum homem espiritual, é claro, diz isto; mas os profanos interpretam deste modo a presença do homem justo, e atribuem a este a ingrata censura. Ora, ninguém tolera, por largo tempo, a consciência da sua inferioridade. Enquanto não aparece outro homem de elevada espiritualidade, pode o homem menos espiritual viver tranqüilo na sua inferiorida­de, porque esta não é nitidamente percebida senão quando polarizada pelo contrário ou por uma espiritualidade superior. Quando o homem pouco espiritual encontra outro ainda menos espiritual, sente-se ele relativamente seguro do seu plano, e tem mesmo a tendência instintiva de fechar os olhos para as virtudes do outro, a fim de poder brilhar mais intensamente, ele só, como aquele fariseu, no templo em face do publicano. E que o homem profano mede o seu valor pelo relativo desvalor dos outros. Quando então a sua luz é, ou parece ser, mais forte que as luzes dos outros, o homem profano ou de escassa espiritualidade experimenta um senso de segurança e tranqüilidade; não tem remorsos da sua pouca espiritualidade nem se julga obrigado a um esforço especial para subir. Entre cegos, diz o provérbio, quem tem um olho é rei.

“Mas ai desse homem complacentemente satisfeito consigo mesmo, se lhe aparecer alguém de maior espiritualidade! Logo começa ele a sentir-se inseguro e inquieto. Em face dessa inquietação, duas atitudes seriam possíveis: a) o vivo desejo de ser tão espiritual como o outro e o esforço correspondente a esse desejo; b) uma atitude de despeito e agressividade.

“A primeira atitude é a dos homens humildes e sinceros; a segunda é a dos homens orgulhosos e insinceros consigo mesmos. Os primeiros se tornam discípulos do homem espiritual, os últimos se tornam seus adversários.

“É doloroso para um pigmeu ver-se eclipsado por um gigante. É desagradável para um impuro ter a seu lado um homem puro. Se o pigmeu não sente em si a capacidade de crescer; se o impuro não dispõe da força de se tornar puro, declarará guerra ao gigante e ao puro.”

“2 — No terreno social das organizações eclesi­ásticas acresce ao primeiro, outro fator, aparentemente mais justificável: o homem altamente espiritualizado é sempre uma espécie de exceção da regra, é um pioneiro que abandonou as velhas estradas conhecidas e batidas pela turbamulta dos crentes e rasga caminhos novos, “por mares nunca dantes navegados”, por ignotas florestas, por ínvios desertos que poucos conhecem. Esse homem ultrapassa, quase sempre, os caminhos tradicionais do passado, e até do presente, e abre novas rotas para o futuro. Toda e qualquer inovação, por mais verdadeira, é, no principio, considerada como erro, e até como perigo social.

“De maneira que o fator “massa” e o fator “tradição” nos dão uma espécie de segurança e firmeza, no meio da insegurança e incerteza que, naturalmente, experimentamos por entre as trevas ou penumbras da vida espiritual. E isto nos faz bem.

“Por isso , as sociedades religiosas organizadas, que contam sempre com o fator massa e tradição, dão grito de alerta e de alarme, e previnem seus filhos contra o perigoso inovador, o herege, o demo­lidor, o apóstata. Quando as sociedades religiosas possuem suficiente poder físico, eliminam do número dos vivos o perigoso demolidor das tradições, e isto “pela maior glória de Deus e salvação das almas”. Quando não possuem esse poder, procuram neutra­lizar a ação do herege matando-o moralmente, isolando-o por meio de campanhas sistemáticas de difamação e calúnia. E como, segundo eles, o fim justifica os meios, e como o fim é (ou parece ser) bom, todos os meios são considerados lícitos e bons, mesmo os maiores atentados à verdade, à justiça, à caridade.

“Donde se segue que o homem espiritual vive em uma relativa solidão. A massa não simpatiza com ele se não lhe é positivamente antipático, mantém pelo menos uma atitude de apatia e desconfiança em face dele.

“Para o homem espiritual, porém, o fator “massa” é sobejamente compensado pelo fator “elite” ou mesmo pelo simples testemunho da sua consciência em plena solidão.

“Existe, aqui na terra, e por toda a parte, a “comunhão dos santos”, isto é, a misteriosa união de todos os que conhecem e amam a Deus, a fra­ternidade branca dos irmãos anônimos formada pelos solitários pioneiros do Infinito. E eles sabem quE é profundamente verdadeiro o que o grande Mestre disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles”. Dois ou três — porque nunca serão muitos no mesmo lugar e tempo, os homens cristificados. E mesmo que sejam mais, nunca deixará de imperar a misteriosa lei da polaridade ou da trindade; dentro de um grupo maior haverá sempre essa constelação interna de dois ou três. A grande experiência crística circulará sempre entre dois ou três, e só mediante essa pequena constelação é que ela se comunicará ao resto do céu estrelado e às galáxias do universo espiritual.”

Huberto Rohden

Para aqueles que queiram ler os textos integrais recomendamos o link: http://www.esnips.com/doc/6fda8dc4-a4e1-48a3-87ae-8085b9eb532a/Huberto%20Rohden%20%3E%20O%20Serm%E3o%20da%20Montanha%20-%20Huberto%20Rohden

Perséfone Hades

Buscando este mundo melhor.

3 comentários:

  1. Bom dia, Perséfone
    Este texto me faz refletir sobre algo que me aconteceu: ser perseguida por causa da justiça, não pela minha santidade pois estou longe disso mas, literalmente sou perseguida por ter feito justiça com pessoas da família que perderam o escrúpulo. A justiça se fêz, é bem verdade mas no final de tudo, me viraram as costas, até mesmo aqueles a quem apoiei. Acho que depois que usam, jogam fora!...hehe...é assim que vejo as coisas por aqui!
    “Os inimigos do homem são os seus companheiros de casa.” Beijosss
    Vera

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  2. Eu agradeço por ter colocado o banner dos blogs aqui. Quero linkar o Reflexos também. Mas, um link é pouco! Então criei um banner, simplesinho, para colocar lá. Você olha, se aprovar, ele fica...não é grande coisa pois não sei fazer melhor mas, é um começo...Vou colocar hoje à noite e te avisarei aqui. Beijos!
    Vera

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  3. Obrigada, minha amiga pelas palavras, embora eu não veja os meus companheiros de casa, hoje, como inimigos mas como difícieis lições que tenho a aprender...
    Sei que fases vem e vão, mas como está difícil de passar por esta aqui...
    Obrigada também pela gentileza de fazer um banner, estou ansiosa por vê-lo.
    bjs
    Perséfone

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Obrigada por sua visita, é muito estimulante que meus textos estejam sendo apreciados pelas pessoas, acho que esta é a realização de todo autor.
Beijos no coração de todos e LUZ sempre...
Perséfone