quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Memórias I

crisálida  - pupa_euploea
Aquele quintal era nosso mundo.
Havia no muro à esquerda e próximo da cerca da frente, um pé de tomate.
Era um arbusto de mais ou menos 1,5 m de altura, de folhas médias muito verdes e com pêlos na face dorsal e um odor forte e gostoso.
De quando em quando apresentava flores brancas muito delicadas que ao secarem davam origem a um pequeno fruto esverdeado, que ia crescendo até se tornar uma fruta pequena alongada, vermelho-alaranjada, de sabor doce delicioso.
Meu pai dizia que era tomate francês, comíamos como frutos e não em saladas ou molhos.
Um dia descobri lagartas sob as folhas banqueteando-se, comecei a observá-las.
Lá ia eu todos os dias, para reparar que as lagartas engordavam e cresciam, e as folhas do tomateiro diminuiam...
Depois de algum tempo as lagartas imensas, parecendo que iam estourar, se aquietavam e formavam, de um dia para o outro, uma espécie de casulo a sua volta, que amadurecia lentamente como os tomates, só que se tornavam prateadas.
Pareciam pequenas jóias presas às folhas e galhos daquele arbusto, pela manhã pingavam o orvalho e refletiam intensamente a luz do sol, ficando ainda mais belas.
Depois de um tempo que eu não sabia precisar, os casulos ficavam vazios como conchas secas e seu brilho prateado desaparecia, ficavam sem vida.
Aquilo me intrigava, até que pude ver um dos casulos abrir-se na parte inferior e algo começou a movimentar-se.
Eu sabia,era a lagarta que saía para respirar...
Demorou muito tempo e uma cabeça saiu e depois umas pernas longas(?) e o corpo que parecia amassado. Era outro bicho!!! Onde estava a lagarta?
Aquele bicho estranho ficou ali, parado sob a folha e a parte amassada de seu corpo começou a distender-se.
Espreguiçaram-se lindas asas amarelas salpicadas de manchas pretas, secando ao sol, e de repente a borboleta saiu voando pelo quintal.
Minha surpresa foi enorme. E como era gratificante passar dias seguidos a observar o processo todo...
Um belo dia o tomateiro morreu, mas eu tinha aprendido que a vida se sucede em transformações, não conseguia ficar indiferente às lagartas como as outras pessoas.
Eram animaizinhos maravilhosos e tinham o poder de transformar-se em borboletas!

Anos mais tarde, estudando e depois lecionando anatomia humana na universidade, eu tive a oportunidade de ter um sentimento parecido - quando todos tinham nojo dos cadáveres, e para mim eram como crisálidas vazias, de onde tinham voado lindas borboletas...
Perséfone Hades (Bia Unruh)

5 comentários:

  1. Ala !!Ala!!!

    Que comeu você hoje?
    Saiu tudo do seu corpo mesmo que as borboletas,cresceu e foé pra o bloger asim pode encher tudo o mundo cibernético con sua maravillosa narrativa,voar con a liberdade dos seus pensamentos.

    Muito especial,amiga,gostei de mais..

    Um bejo

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  2. É parece que minhas memórias estão querendo fluir...

    bjs
    Perséfone

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  3. Acho que lembrar troze as vezes uma paz interior,é como si tivese superado os aconteceres e eles voltasen pra se manifestar como victorias ganhadas.


    uM ABRAÇO

    PD- Esqueci te dizer que as fotos que coloco nu meu blog, algumas säo de Google,outra minhas o dos meus cuadros.

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  4. Sim e a cada vitória o caminho para a LUZ se delineia melhor...

    Obrigada por lembrar as fotos, acho-as lindas.

    Bjs
    Perséfone

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  5. Bom dia...
    quero lhe oferecer um presente simbólico do meu blog História Viva
    http://historianovest.blogspot.com/2009/02/selo-esperanca-brasil.html
    obrigado

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Obrigada por sua visita, é muito estimulante que meus textos estejam sendo apreciados pelas pessoas, acho que esta é a realização de todo autor.
Beijos no coração de todos e LUZ sempre...
Perséfone