segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Monólogo de Luís Vaz de Camões



Minha idade não mais sei, esqueci através dos anos, e muito menos fora escrita. De minha infância me recordo tampouco, então não deve ter sido muito importante (descaso)...
Mas lembro de meus estudos naquela boa cidade, Coimbra. Lá, ensinaram-me os ofícios da escrita. Logo estava eu, a escrever poemas às formosas damas por quem me encantava...
Gisele, Maria, Alda, Segislene, (pensa), Clarivalda... (longa pausa) Tudo bem.. Os nomes não eram lá essas coisas, mas... (pequena pausa) vocês entenderam!
E me vem à mente agora, os tempos que passei em Ceuta, combatendo com os Mouros... (expressão determinada e indignada) Aqueles malditos arrancaram-me um olho mas não minh’alma! (pequena pausa)
Depois, em 1552, houve meu regresso a Lisboa e uma briga com um empertigado da Corte. Prometi-lhe morte, mas tudo que consegui foi uma era de desespero (pequena pausa); na cadeia... (lembra com tristeza)
Quando saí daquele horrível lugar, senti-me amargurado, e sem mais vigor por vida. Viajei então as Índias e escrevi em 1553 Os Lusíadas.
Mas continuava bêbado e depressivo, caindo por aí... (pequena pausa, suspira) Até que um dia, levantei na manhã e tinha como cenário um celeiro e porcos a minha volta. Muito desagradável... Bom, voltemos ao assunto... (pensa um pouco)
Em meio de minhas expedições militares escrevi um poema muito bonito (tosse limpando a garganta): “Amor é fogo que arde sem se ver/ entre a vida e a morte,/ a água e o fogo,/ a esperança e o desengano (demora a lembrar do resto e para a fala progressivamente)...” de certo me lembrarei (embaraçado)...
Prossegui para Macau, logo então; depois para Goa. Porém não fosse o infortúnio de naufragar em Mecon... (desanimado) Felizmente salvei minha epopéia - não me perguntais como! -; infelizmente, perdi uma chinesa (gesto de apelo sexual) a quem eu amava muito (novamente) e dediquei-lhe alguns poucos sonetos.
Em Goa fui tratado como um cão sarnento, e assustado, desembarquei em Moçambique. No ano de 1568 (empolgado) - esse me lembro bem - Diogo de Couto me encontrou! (longa pausa) Não... Não vivemos felizes para sempre, se é o que quereis saber! Mas esse santo, bendito de Vênus, publicou Os Lusíadas. El rei D. Sebastião me deu (no bom sentido!) uma valorosa quantia em dinheiro... (longa pausa) Não vos interessais quanto foi! Mas como eu só vivia no moquifo, não durou muito a boa vida (triste)...
Agora, depois de toda fortuna gasta, não me sobram alternativas, senão morrer. (pequena pausa) Quem sabe, talvez, ainda um dia, possam desfrutar de pelo menos minhas obras, já que minha biografia só apontaria uma vida tão mal vivida, afogada em magoas e vícios.
Termino aqui, meu último escrito; meus últimos resquícios de vida, enfim... (pequena pausa)
Dá adeus o sofrido Luís Vaz de Camões.
Maio/07

Escrito pela minha filha Bethânia Cristina para um trabalho de escola
Publicado em 29/09/08 em http://www.usinadaspalavras.com/

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Obrigada por sua visita, é muito estimulante que meus textos estejam sendo apreciados pelas pessoas, acho que esta é a realização de todo autor.
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Perséfone